Dossiê sobre danos à saúde de bancários causados por pressão no trabalho é divulgado na Alepe

Em 30/04/2025
-A A+

Medo de demissão, metas abusivas e ameaças são alguns dos problemas enfrentados por trabalhadores do setor bancário em Pernambuco. Os dados estão no dossiê “Saúde da categoria bancária de Pernambuco em estado de emergência”, apresentado em audiência pública da Comissão de Cidadania, nesta quarta. O estudo foi solicitado pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco e desenvolvido pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Políticas Públicas e Desenvolvimento, vinculado à Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Ao longo do ano passado, pesquisadores identificaram uma relação entre o modelo de gestão dos bancos e o adoecimento dos profissionais. Entre as questões de saúde identificadas estão burnout, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade generalizada, depressão, insônia e consumo excessivo de bebida alcoólica. Vestidos com camisetas com os dizeres “Assédio mata! Denuncie”, bancários relataram situações de assédio. Entre eles, Suzineide Rodrigues, bancária há 33 anos e dirigente do Sindicato.

As pessoas estão morrendo, os bancos estão matando as pessoas. E já teve bancário que morreu dentro da agência, que se mata. E os colegas tiveram que trabalhar depois de estar vendo o colega lá morto, e o gerente chamava: ‘a gente tem que trabalhar para bater a meta’. Então, que lugar de trabalho é esse que a gente está?

A pesquisa cita dados do Dieese apontando que, entre 2017 e 2022, o número de afastamentos por adoecimento nos bancos cresceu 70% mais que em outras categorias, no Brasil. Apesar de representarem cerca de 1% dos empregos formais no país, registram 25% do total de afastamentos acidentários por doenças mentais e comportamentais. Na avaliação do coordenador do estudo, professor Maurício Sardá, conquistas do setor nas décadas de 1980 e 1990, como a carga horária de seis horas por dia, tiveram como reação dos bancos uma cobrança maior sobre os trabalhadores.

A gente partiu da ideia de que o assédio moral está presente no cotidiano das agências, né, Alan? É no dia-a-dia. E de certa forma tenta-se naturalizar essas relações de pressão, de abuso, que envolve gestão abusiva, fundada na hostilidade e na violência, gestão por estresse, gestão por injúria e a gestão por medo.”

A imposição de metas abusivas foi apontada pelos participantes da audiência pública, como o presidente do Sindicato dos Bancários, Fabiano Moura. “O pior deles é o assédio institucional. Do modelo de gestão, de cobrança, de metas abusivas, de pressão, de lucro pelo lucro. Esse instrumento perverso, ele precisa ser denunciado. Nós precisamos pressionar os banqueiros para que eles entendam que existem outras formas de você atuar no mercado, sem necessariamente esfolar o ser humano.”

O deputado João Paulo, do PT, e o presidente da CUT Pernambuco, Paulo Rocha, reforçaram a redução no número de postos de trabalho nos bancos e a sobrecarga dos profissionais que permaneceram. Rosa Amorim, do PT, destacou o trabalho do Sindicato para levar adiante as reivindicações da categoria. Doriel Barros, também do PT, sugeriu pedir reuniões com o Ministério Público de Pernambuco e com a governadora Raquel Lyra, para levar as queixas da categoria. Ele também propôs visitas a agências bancárias, com deputados e representantes do Sindicato.

E aí essa comissão, junto com vocês, vai até o banco, para a gente poder ver essa realidade, dizer que a Assembleia, os deputados foram pautados porque há denúncia de situações de assédio dentro dos bancos. E articular com a imprensa para a gente fazer uma divulgação, para a gente mostrar que nós não vamos aceitar essa realidade.”

A presidente da Comissão de Cidadania, deputada Dani Portela, do PSOL, acolheu todas as propostas. Ela comentou ainda a possibilidade de criação de uma frente parlamentar sindical e social. Uma frente parlamentar, porque aí é uma coisa permanente, ela não é só uma audiência pública, é uma frente contínua, ela tem prazo de existência, e ela precisa dar respostas. Isso não é um problema, infelizmente, de uma categoria. E acho que, quando a gente se soma, a gente aumenta a nossa força.”