Cursos superiores no interior do estado valorizam vocação econômica das regiões

Em 21/12/2018
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Aos 31 anos, o ex-cortador de cana Erivaldo Oliveira é um homem realizado. Conseguiu fazer um curso superior na sua cidade, Barreiros, na Mata Sul, e acaba de concluir o mestrado em São Paulo. Ex-morador de um assentamento na região, ele foi um dos 40 primeiros alunos da turma de agroecologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, o IFPE.  Pra mim, é um sonho realizado. Pretendo continuar ainda estudando, fazer o doutorado e um dia voltar para o IFPE como professor”.

O sonho de Erivaldo é o mesmo de muitos estudantes do interior do estado: mudar de vida a partir de um curso superior. O diferencial foi a possibilidade de ter uma formação voltada para a vocação econômica da região onde mora. Barreiros fica numa área de cultura da cana-de-açúcar. Com o fechamento de uma usina na cidade, em 1997, os trabalhadores passaram a plantar nas áreas antes ocupadas pelos canaviais. Para atender a demanda que surgiu, o Instituto criou cursos direcionados aos interesses da população, é o que conta o coordenador de agroecologia, Rinaldo Malaquias. Essa demanda social chegou à nossa escola  por diversas vezes, por diversas entidades que atuam junto aos produtores.   Adequado a essa região de agricultura familiar, a esse novo cenário regional, com a saída de muitas usinas, com a distribuição de terras e com a formação dessa agricultura familiar”.  

Em 2006, foi inaugurado o primeiro campus da UFPE no interior. O Centro Acadêmico do Agreste, em Caruaru, tem entre seus objetivos contribuir para interiorizar o conhecimento científico e preparar a população para o desenvolvimento adequado das atividades produtivas. A estudante Aline Paiva faz o 6º período do curso de design. Ela destaca que a integração entre o meio acadêmico e a comunidade é fundamental para ajudar a melhorar a vida de todos. A gente pensa muito o Agreste, a gente entende a importância desse trabalho aqui. A gente tá numa região que tem muito fabrico, que tem muita produção de moda, e acaba que muitos trabalhadores trabalham de forma informal. E muitas vezes em situações precárias de produção. E você, como um profissional de design, entra no mercado tentando mudar isso. A gente lida com o trabalhador, a gente lida com o projeto para que essa produção gere menos resíduo, a gente pensa no meio ambiente e na qualidade de vida das pessoas.”

A atuação do Núcleo de Design e Comunicação da UFPE em Caruaru é focada nos polos de artesanato, moveleiro, confecções e jeans. O vice-coordenador, Charles Leite, ressalta que, mais do que formar o aluno, a ideia é estimular o empreendedorismo. A gente não forma um aluno pensando que ele vai buscar o emprego formal, tenta capacitar o estudante para que ele viva, construa-se enquanto um profissional e empreendedor engajado, e crie uma empresa para atender as especificidades locais ou que preste serviços nesse sentido”.  trair o profissional recém-formado para se fixar na região é uma das preocupações. Quando o aluno tá no final do curso, ele já tá num estágio lá dentro, numa empresa nossa, numa empresa do Agreste”.

Na zona rural de Petrolina, no Sertão do São Francisco, a proposta das turmas de viticultura e enologia, que abordam os diversos setores da indústria do vinho, é aproveitar a vocação para a fruticultura irrigada. Criada em 2005 pelo Instituto Federal Sertão Pernambucano, a graduação é única no Nordeste. A coordenadora Elis Nogueira detalha a formação dos estudantes e a importância da cadeia da uva e do vinho para a região. ”O nosso curso possui disciplinas que vem desde a produção de uva, seja ela pra consumo in natura ou para processamento, até a elaboração dos produtos finais. Ou seja, a gente tenta trabalhar sempre voltado ao nosso comércio regional, até porque a nossa região é considerada a segunda maior na parte de exportação de uva in natura”.

Segundo o projeto pedagógico do curso, o Vale do Submédio São Francisco começou a cultivar vinhas a partir da década de 1960. A produção de vinhos foi desencadeada nos anos 1980. Atualmente, são produzidos, numa área de 700 hectares, cerca de 8 milhões de litros da bebida por ano, o que corresponde a 15% da produção nacional.

Se você quer saber mais sobre cursos superiores no interior do estado, acesse: portalifpe.edu.br, ifsertao-pe.edu.br , ufpe.br/caa .