Chuvas: 27 municípios decretam situação de emergência e geram discussões na Alepe

Em 14/07/2017
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Na madrugada de 28 de maio, a água da chuva cobriu a casa em que vivia a família de Tiago Almeida, no bairro de Santa Gorete, em Barreiros, na Mata Sul. Ele e a mulher, que estão desempregados, só tiveram tempo de pegar o filho de um ano e alguns objetos pessoais. “Peguei mais roupa, televisão, somente, e os documentos. O resto ficou foi tudo lá. Não deu nem para pegar muita roupa, porque foi só o necessário.”  

Junto com outras 48 famílias, eles terminaram se instalando no abrigo improvisado na quadra esportiva de uma escola agrotécnica. Cícera Caetana da Silva, mãe de nove filhos, estava na mesma situação. Ela espera conseguir a realocação para casas do Minha Casa, Minha Vida, ou ser beneficiada por auxílio-moradia. “Porque a gente não está aguentando tanta muriçoca aqui. É muriçoca, é lacraia entrando, besouro no ouvido desses meninos. Fica a noite acordada abanando esse meninos porque é muita muriçoca mesmo.”

Os relatos não são isolados. No início de junho, com os alagamentos e o transbordamento do Rio Una, cerca de 17 mil pessoas, ou seja, dois de cada cinco moradores de Barreiros, ficaram desalojados. Esse é o termo usado para identificar quem está temporariamente na casa de parentes e amigos. A cidade foi, proporcionalmente, a que teve mais pessoas afetadas. Gente como Claudeniz Francisca Santiago, mãe de três filhas, que também espera uma solução para o caso. “Já vai fazer um mês que nós estamos aqui. Ontem eu fui assinar o negócio da casa, para ganhar essa casa que estão para dar, mas não sei como vai ficar, porque a gente não vai ficar morando numa quadra de colégio por toda a vida.”

O Governo decretou situação de emergência em 27 municípios. Em todo o estado, logo após as chuvas, os números alcançaram 52 mil desalojados e três mil desabrigados. Até primeiro de julho, permaneciam desalojadas mais de 8 mil pessoas e outras cerca de mil desabrigadas.

Sobre a solução para o problema, um dos pontos de controvérsia que repercutiu na Alepe foi a construção de barragens para evitar novas inundações. A conclusão de Serro Azul, em Palmares, foi apontada pela base aliada como um dos fatores que reduziu a área de inundação e o nível de água em relação a 2010. Mas os oposicionistas responsabilizam o Governo do Estado pela paralisação das obras das barragens de Gatos e Panelas II, em 2014, e de Igarapeba e Barra de Guabiraba, em 2015. É o que explica o líder da Oposição, Sílvio Costa Filho, do PRB. “A maioria, 90% das ações, são ações ainda de 2010, da Operação Reconstrução, que não foram entregues  ainda à população, a exemplo das cinco barragens prometidas, apenas uma foi entregue.” 

O líder do Governo, Isaltino Nascimento, do PSB, afirmou que os repasses federais chegam “a conta-gotas” desde 2013. Segundo ele, ainda são necessários cerca de 383 milhões de reais do Governo Federal para a conclusão das obras. Em maio, o presidente Michel Temer anunciou a autorização para um empréstimo de 600 milhões de reais para investimentos em ações preventivas. Enquanto isso, a Alepe aprovou projetos do Poder Executivo para criação do Fundo Especial de Amparo aos Municípios Atingidos pelas Chuvas e a concessão de auxílio-moradia emergencial para famílias atingidas pelas enchentes.