“A gente tem que conscientizar o próximo para nos incluir no dia a dia, no trabalho e nas festas. Em muitos lugares, não há sensibilidade para ver que somos pessoas normais e que não somos diferentes de ninguém por não ter um membro, seja uma perna ou um braço.”
A fala de Iasmim Moura, que há dois anos perdeu a perna direita após um acidente de moto, resume a discussão promovida pela Comissão de Saúde da Alepe, nesta terça, em apoio à campanha Abril Laranja – Mês da Conscientização da Amputação.
Na abertura do encontro, o deputado Izaías Régis, do PSDB, frisou que o Brasil possui cerca de 500 mil pessoas amputadas, segundo dados da Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação. O tucano lembrou que essas amputações têm diversas causas, sendo a mais recorrente sequela da diabetes, seguida por acidentes de trânsito e de trabalho. Ele lamentou que, especialmente no Interior, muitas pessoas passem por amputações por falta de orientação.
Autor do requerimento para a realização da audiência pública, o deputado Kaio Maniçoba, do PP, pediu o apoio ao projeto dele que inclui o Abril Laranja no Calendário de Eventos e Datas Comemorativas de Pernambuco. Ele defendeu que é preciso promover essa conscientização em todo o Estado.
“Esse Abril Laranja vem para que a gente possa dar oportunidade a pessoas também que não conhecem, de como ter acesso, de como cuidar, de como tratar, de como prevenir. A gente colocou isso no calendário estadual para que possa chegar às escolas, para que muitas vezes a coleguinha de uma criança não estranhe uma criança chegar com uma prótese, com algo diferente deles, para que possa entender que é algo normal, corriqueiro e que pode acontecer na vida de todos nós.”
O fisioterapeuta Tiago Bessa, que propôs o encontro, também destacou a importância de conscientizar a sociedade a buscar a prevenção, uma vez que até um machucado no pé, por um simples corte de unha inadequado, pode levar a uma amputação. Ele também destacou o outro viés da campanha do Abril Laranja: o foco na melhoria da qualidade de vida, nos casos da necessidade de cirurgia.
“Caso, é claro, tenha necessidade de ser realizada a amputação, a gente quer mostrar também nessa campanha que sim, os pacientes podem ter vida com qualidade. Podem retomar sua vida, retomar seu trabalho. Enfim, ter uma qualidade de vida, né, como pessoas que não tenham amputações.”
Na mesma linha, o ortopedista Marcelo Souza, do Hospital de Câncer de Pernambuco, afirmou que além de garantir às pessoas amputadas o acesso à fisioterapia, reabilitação e prótese, também é preciso assegurar o atendimento com psicólogo, nutricionista e fisioterapeuta.
Vereador do Recife pelo MDB e médico do Hospital de Câncer, Tadeu Calheiros enfatizou a importância de o atendimento clínico ocorrer de forma descentralizada no Estado e em tempo adequado. “Nossos pacientes são maciçamente do interior do Estado e muitas vezes de outros estados, a minoria de meus pacientes são de Recife. E a gente tem uma média de seis meses desde o início dos sintomas para chegar na minha sala. Isso é muito tempo. Isso é um tempo crucial entre a vida e a morte, entre a preservação ou não de um membro.”
A audiência pública também contou com a participação de pessoas que passaram pela cirurgia de amputação. Uma delas foi Lucas Rafael da Costa, de 12 anos, que não tem a perna esquerda devido a uma má-formação congênita. “Com a prótese eu consigo fazer tudo: consigo andar, correr um pouco, jogar futebol, jogar volêi, entre outras atividades físicas. E a principal frase que eu quero falar a vocês todos, deficientes, é que vocês não se conformem dentro de casa, pensando que vocês não podem fazer as coisas. É totalmente ao contrário, vocês podem fazer o que vocês quiserem, é só vocês quererem. A palavra é determinação.”