A criança mora com um dos pais, gosta dos avós, dos tios, convive bem na escola, embora com alguma dificuldade de aprendizado… Chega o fim de semana e é a vez da criança rever o outro genitor… ela resiste ao encontro, faz birra, fala mal do pai ou da mãe… A situação, conhecida de psicólogos e profissionais do direito, apresenta indícios da chamada “alienação parental”. Ao fim de um casamento, a parte inconformada pode se vingar jogando os filhos contra o ex-parceiro.
Em Pernambuco, ainda é reduzido o número de casos judiciais de alienação parental: são apenas três processos na décima primeira Vara da Família, localizada no Fórum Joana Bezerra, no Recife. A informação é da juíza titular Paula Malta, mas ela ressalta que, num simples caso de regulamentação de visitas, acabam surgindo pistas de que um dos pais está manipulando os filhos. “Quando o feito caminha, e que os ânimos, como eu disse, se exaltam, isso vem à tona. As pessoas passam a acusar uma a outra de ato alienatório, pra você ter uma ideia tem processo em que as pessoas acusam reciprocamente a prática de alienação parental.”
E como se sente a criança manipulada? Chefe do Centro de Apoio Psicossocial do Tribunal de Justiça de Pernambuco, a psicóloga Helena Ribeiro, descreve o quadro psicológico típico da criança vítima de alienação. “Pode apresentar baixa autoestima, pode apresentar baixo rendimento escolar, agressividade, depressão, sentimento de menos valia e isso pode ir se agravando ao longo do tempo. Porque perder um pai uma mãe quando vivos, isso é pior do que a morte de fato.”
Desde 2010, o Brasil conta com uma lei federal que estabelece penalidades para o alienador. O juiz pode advertir, estipular multa, determinar a guarda compartilhada ou sua inversão e até a perda do poder familiar. Muitos casos graves escapam da justiça, mas o sofrimento dos envolvidos permanece. É o caso, por exemplo, da jovem Rafaella. No documentário brasileiro “A Morte Inventada”, dirigido por Alan Minas, ela chora no depoimento em que revela ter crescido sem o pai. “Depois que eu cresci, eu achava mesmo que meu pai era um escroto, como é que tem coragem de largar a gente pequeno. A última vez que eu tinha visto ele tinha sido nesse dia que eu fiz 15 anos, que ele veio, assim, no meu aniversário. Depois eu fiquei muitos anos sem ver e falando esporadicamente, pra pedir dinheiro mesmo… fiquei 11 anos sem vê-lo.”
Há 24 anos, o professor universitário Lairson Lucena, de 47 anos, conheceu a mãe dos seus dois filhos. Desde o início da relação, a companheira mostrou-se violenta. Além de praticar alienação parental, ela tentou estrangular a própria filha e saiu impune. Lairson decidiu olhar pra frente e lutar pelos filhos. “O dia que eles entenderem que a minha porta, da minha casa, continua sempre aberta, que o meu coração não modificou em nada, desde o início, quando eles nasceram, que nenhuma das mentiras levantadas sobre a minha pessoa foram verdades, ou são verdades, e que, nessa relação possa nascer novamente a confiança entre os dois, para que eu possa ter nos meus filhos a minha descendência.”