“Eu via muito bebê nascendo com a microcefalia e não imaginava que eu ia ter.” “Entrou uma médica pediatra gritando, dizendo pra mim ‘você sabia que seu filho não tem cérebro?’” “No começo, como ninguém sabia de nada, era tudo novo, foi muito apavorante.” “Para mim foi um choque, mas já superei e estou aprendendo com a minha filha, cada dia mais.”
Os relatos de Maria das Dores, Eliane, Daniele e Rosicláudia contam o início de uma história que assustou o Brasil e o mundo. Elas fazem parte do grupo de mulheres que deram à luz a mais de 2.700 bebês com microcefalia nos últimos dois anos no País. A condição está possivelmente associada ao vírus da zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. A epidemia, classificada pela Organização Mundial da Saúde em 2016 como situação de emergência de saúde pública internacional, atingiu principalmente a região Nordeste do Brasil.
Aqui em Pernambuco, entre 2015 e 2016, foram mais de 400 casos confirmados da chamada Síndrome Congênita do Zika Vírus. Em 2017, segundo o Ministério da Saúde, o estado soma oito confirmações. Além da cabeça de tamanho reduzido, os bebês apresentam graves problemas de saúde, como conta Eliane Francisca da Silva, mãe de Davi, de um ano e oito meses. “Davi tem sequelas em tudo. Ele tem problemas na audição, na visão. Chegou a ter sérios problemas de deglutição, muito mesmo, eu tinha medo de ficar em casa sozinha com ele, quando ele era bebezinho. A parte motora dele também é toda prejudicada.”
A dona de casa Maria das Dores Alves é mãe de Raíssa Vitória, nascida em dezembro de 2015. Ela explica que a filha não se desenvolve como outra criança da mesma idade. “Na questão da alimentação, ela reage bem. Na visual também, ela consegue fixar o olhar, consegue acompanhar. Só não consegue engatinhar ainda, nem ficar em pé, só com apoio. Sentar também, só com apoio.”
Os efeitos do zika no desenvolvimento da criança variam de um caso para outro, mas o que todos têm em comum é a necessidade de atenção integral. O tratamento inclui diversas especialidades médicas além da pediatria. Para dar conta do recado, as mães precisam encarar verdadeiras sagas entre hospitais, clínicas e instituições de saúde. Se já é difícil para quem vive no Recife e Região Metropolitana, aquelas que moram no interior pernambucano enfrentam dificuldades ainda maiores. Rosicláudia Aragão é do município de Condado, na Zona da Mata Norte. A filha dela, Carla Vitória, nasceu em outubro de 2015 e só teve a microcefalia detectada após o parto. Quatro vezes por semana, elas viajam 78 quilômetros até o Recife. “Ela faz fisioterapia, acompanhamento com a fonoaudióloga, estimulação visual e auditiva. Eu faço pelo Governo porque na minha cidade não tem.”
O decreto de emergência do Governo Federal, por causa do surto de microcefalia no Brasil, foi encerrado em maio de 2017. A coordenadora de vigilância epidemiológica de arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde, Daniela Bandeira, ressalta que o risco de epidemia ainda é alto no estado. “Não só epidemia de zika, como de chikungunya e dengue também, por conta dos quatro sorotipos circulando. Atualmente, dos nossos 184 municípios, 162 estão com alto índice de infestação e elevado risco de transmissão para as três arboviroses.”
A Secretaria de Saúde de Pernambuco monitora os casos de bebês nascidos com suspeita de Síndrome Congênita do Zika e também gestantes que apresentem sintomas de infecção pelo vírus, como manchas vermelhas na pele, febre baixa e dor nas articulações. Se este é o seu caso, procure uma unidade de saúde.