No final da década de 1970, foram registrados os primeiros casos da infecção que viria a ser identificada, anos depois, como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, conhecida por todos nós com a sigla em inglês: AIDS. Era o começo da epidemia que já matou mais de 35 milhões de pessoas no mundo todo, segundo a UNAIDS, uma instituição global ligada à ONU. Em Pernambuco, de 1983 a 2015, foram registrados 25 mil casos da infecção, com quase dez mil mortes. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, só em 2015, foram 1.120 novas confirmações, a maioria entre jovens de 20 a 39 anos.
Pedro, de 29, descobriu este ano que tem o HIV. “Meu ex-companheiro contraiu, se infectou e me avisou que estava infectado. Pelo que eu tenho de contas, já fazia mais ou menos cinco anos que eu podia estar infectado e não sabia.” O vírus HIV ataca o sistema imunológico, que é a defesa do organismo, como explica o chefe do serviço de doenças infecciosas parasitárias do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, o infectologista Paulo Sérgio Ramos. “Ele vai ampliando e aumentando ao longo dos anos, o que vai acarretar o aparecimento de doenças infecciosas e de algumas neoplasias, alguns tipos de câncer. O portador de HIV/AIDS tem maior vulnerabilidade a ter pneumonia por um fungo específico, pode ter infecções no cérebro, pode ter infecções nos pulmões, em outros órgãos…”
Contrair o HIV não significa estar doente de AIDS. É possível, com medicação, controlar a carga viral. O infectologista Paulo Sérgio Ramos garante que, com acesso ao tratamento fornecido gratuitamente pelo Governo Federal no Brasil, o paciente soropositivo pode ter boa qualidade de vida. “Com um número pequeno de medicamentos, às vezes até um comprimido ao dia, com poucos efeitos colaterais, esses indivíduos têm uma sobrevida bastante elevada. Ele pode viver o número de anos que ele geneticamente está determinado, mas para isso ele precisa praticar atividade física regular, ter uma dieta bem balanceada.”
O assessor de projetos da ONG Gestos, Soropositividade, Comunicação e Gênero, Jair Brandão, alerta para a infecção por tuberculose nas pessoas que têm AIDS. “Tuberculose hoje é a coinfecção que mais mata pessoas com AIDS no mundo. Pernambuco é o estado com maior número de casos de AIDS na região Nordeste, é o maior número de incidência em tuberculose no Nordeste, é o maior número de caso de óbitos por tuberculose no Nordeste, e a cada dia morrem duas pessoas por AIDS em Pernambuco.”
O vírus HIV pode ser transmitido pelo contato com sangue infectado, pela relação sexual desprotegida ou de mãe para filho – durante a gestação ou pela amamentação. A prevenção inclui o uso sistemático de preservativos e seringas descartáveis. Para as mulheres que desejam engravidar, a recomendação é fazer o teste de HIV antes ou no início da gestação. Se o resultado for positivo, a gestante deve começar imediatamente a tomar o medicamento que impede a infecção do bebê. Aline, de 28 anos, fez esse tratamento. Ela tem quatro filhos, nenhum soropositivo. Mas, quando a criança nascia, ela deixava de tomar os remédios. “Eu só tomava os medicamentos quando eu estava grávida. Eu não aceitava, eu achava que eu iria morrer logo, eu não queria saber informações… Eu aprendi muita coisa com tudo o que eu passei.”
Daniel, de 24 anos, conta que contraiu HIV com o ex-namorado. “Eu acredito que até hoje ele não sabe. Não tenho coragem de contar para ele, até porque foi muito difícil para mim também. Se ele sabe da sorologia, provavelmente ele ocultou de mim. Só quem sabe é mesmo a minha mãe e meu atual namorado.”
O receio de dizer que é soropositivo a parentes e amigos é grande, por causa do preconceito. Poucas pessoas sabem da infecção de Daniel, Aline e Pedro. É por isso que eles tiveram os nomes trocados e a voz distorcida, nesta reportagem. O coordenador do Programa IST/AIDS do Governo de Pernambuco, François Figueirôa, informa que não há motivo para ter medo de alguém com HIV. “Beijar, abraçar, dar carinho, lágrima, suor, saliva, sentar na mesma cadeira, beber água no mesmo copo, nada disso transmite HIV. Não precisa a gente ter medo de uma pessoa que tem HIV, não precisa discriminar, não precisa segregar uma pessoa que tem HIV. A epidemia que mais maltrata a pessoa com HIV hoje é a epidemia do preconceito.”
Se você tem alguma dúvida sobre HIV/AIDS, procure uma unidade de saúde ou acesse aids.gov.br.