Bruna Henrique e Carolina Flores
Ser uma mulher no Brasil nos anos 1930 significava depender da autorização do marido para trabalhar fora ou para votar; ser impedida de viajar, abrir conta de banco ou possuir um estabelecimento comercial, ou mesmo proibida de praticar futebol, a modalidade esportiva mais popular do País. Nesta mesma década do século passado, Luzia Belmiro Monteiro de Azevedo se tornou a primeira mulher eleita vereadora do município de Caruaru, no Agreste Central.
Ela também foi professora, cronista esportiva, madrinha do Central Sport Club e líder de uma banda musical. Conhecida como Professora Sinhazinha, a educadora foi inscrita no Livro do Panteão dos Heróis e das Heroínas de Pernambuco – Fernando Santa Cruz, pela Resolução nº 1928/2023, por iniciativa da deputada Débora Almeida (PSDB).

PIONEIRA – Professora Sinhazinha entrou para o Panteão em 2023. Foto: Divulgação
“Ela se tornou um símbolo feminino da educação. Era cronista esportiva, líder e madrinha de torcida feminina. Imagine isso lá atrás? Em 1935! Durante toda sua vida, estimulou muito a arte e a educação em Caruaru . Com virtudes muito grandes, um modo simpático e um carinho muito grande por seus alunos”, ressaltou a parlamentar.
Nascida em Caruaru no ano de 1888, Professora Sinhazinha recebeu o apelido carinhoso em razão da postura proativa e engajada nas causas locais, além da formação acadêmica na área, que conferia autoridade na época em que viveu. O historiador Walmiré Dimeron, consultor cultural e vice-presidente do Instituto Histórico de Caruaru, conta que a atuação dela na comunidade local começou em meados de 1909, em atividades nas áreas de cidadania, arte e cultura na escola onde estudou.
“Já a encontramos como oradora de turma, na Escola Normal Estadual de Caruaru. Na sequência, participando de saraus, pequenas apresentações literárias e, na sequência, sua atuação no magistério já na vida adulta após concluir curso de formação na área”, relatou.
Futebol
Mais tarde, tornou-se madrinha do Central Sport Club e cronista esportiva, uma das pioneiras no Brasil, o que também marcou o legado da educadora. “Tendo nascido numa sociedade altamente patriarcal e machista, ela conseguiu, com desenvoltura ímpar, tornar-se uma mulher múltipla em diversas esferas da sociedade caruaruense. Conseguiu o feito de tornar-se um símbolo da figura protetora”, afirmou o historiador.

PANTEÃO – Débora Almeida ressaltou o simbolismo do exemplo de Professora Sinhazinha. Foto: Roberta Guimarães
Em 1935, foi eleita a primeira vereadora de Caruaru, rompendo barreiras sociais que eram impostas para as mulheres à época e consolidando-se como uma figura à frente de seu tempo. O feito histórico rende homenagens até hoje. “A Câmara de Vereadores de Caruaru tem uma medalha de honra ao mérito Professora Sinhazinha, que é concedida para pessoas que tem um trabalho muito importante em Caruaru, tamanha era a importância dela”, destacou Walmiré Dimeron.
A líder social, ex-vereadora, esposa e mãe faleceu em 1968, deixando uma marca de compromisso social. A inscrição no Livro do Panteão é uma das principais distinções concedidas pela Alepe. Fazem parte do documento pessoas ou grupos cuja bravura e heroísmo tenham contribuído para a formação da identidade pernambucana, a defesa dos direitos humanos ou a luta pela democracia e justiça social. Para Débora Almeida, a dedicação da Professora Sinhazinha à formação intelectual dos alunos, o estímulo às artes e à cultura, além da coragem na política, “merecem todo o reconhecimento da Casa”.
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