Segundo dia de Seminário de Segurança Pública tem capacitação e troca de experiências

Em 02/09/2022 - 20:09
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TÉCNICA – “Usando conceitos da Psicologia, podemos construir um perfil que ajuda a direcionar o trabalho policial”, explicou Dennis Lino. Foto: Nando Chiappetta

Com painéis sobre modelos de polícias, profiling criminal, sistema carcerário e facções criminosas, a Alepe concluiu, nesta sexta (2), a realização do I Seminário Contribuições do Poder Legislativo Estadual à Segurança Pública em Pernambuco. O evento, realizado ao longo de dois dias e acompanhado por mais de 200 inscritos, reuniu profissionais e especialistas para tratar de temas relacionados à prevenção e ao combate à criminalidade.

A primeira mesa desta sexta tratou das técnicas utilizadas para estabelecer o perfil de um criminoso, conhecidas como “Criminal Profiling” (comumente traduzido como Perfilamento Criminal). Conforme explicou o professor Dennis Lino, especialista em Psicologia Investigativa e Forense e autor de livro sobre a temática, esse trabalho busca identificar características do ofensor com base nos “vestígios comportamentais”.

A arma utilizada, a quantidade de ferimentos, o meio pelo qual se invade uma propriedade foram citados pelo estudioso como aspectos que podem ser usados para deduzir possíveis características biológicas, psicológicas e sociais do criminoso. Originalmente, essa técnica baseava-se na experiência do investigador; hoje, em estatísticas e bancos de dados. 

De acordo com  Lino, os desafios para disseminar essa prática no Brasil e em Pernambuco incluem a melhoria da produção e do acesso às bases de dados, bem como a oferta de treinamentos. “Usando conceitos e definições que vêm da Psicologia, podemos construir um perfil que ajuda a direcionar o trabalho policial, apontando os principais suspeitos e as linhas de investigação mais coerentes”, defende o psicólogo.

Ao participar da mesma mesa, o secretário de Defesa Social do Cabo de Santo Agostinho, Pablo de Carvalho, afirmou que o município pode ser o ente federado integrador das políticas de segurança. Ele correlacionou o perfil da maior parte das vítimas de homicídios na cidade – jovens de 13 e 20 anos ligados ao narcotráfico – à necessidade de as ações repressivas estarem acompanhadas de medidas nas áreas de urbanismo, educação, assistência social e prevenção às drogas. “O profiling criminal também é importante nos casos de crimes de menor impacto, seja para prevenir ou para reprimir”, agregou o delegado.

COMPARAÇÃO – Paulo Rameh apresentou a origem das forças de segurança pública e as diferenças apresentadas em diversos países. Foto: Nando Chiappetta

Comparação internacional

Os modelos de polícias de outros países foram discutidos na sequência. O cientista político e delegado aposentado Paulo Rameh apresentou a origem das forças de segurança pública e as diferenças adotadas por cada gestão. “Há países com um ministério que coordena de forma vertical a política de segurança e outros que não têm um órgão unificado. Esses transferem para a base a forma de organização, gestão de recursos e de trabalho”, exemplificou.

Uma característica própria do sistema brasileiro, segundo ele, é o ciclo incompleto da atividade policial, ou seja,  a divisão das funções de prevenção, repressão e investigação de crimes entre as diferentes corporações. Este ponto também foi abordado pelo professor de Direito José Durval Lins Filho. Ele ponderou, porém, que “não há um modelo que seja melhor do que o outro”. “Qualquer modelo pode surtir bons efeitos se estiver adequado à realidade histórica e social e se for legitimado pela população, pelas leis e pela Constituição”, explicou.

DADOS – Cícero Rodrigues informou haver 34 mil pessoas privadas de liberdade em PE, sendo 32% por envolvimento com o tráficos. Foto: Roberto Soares

Sistema prisional e crime organizado

Completando a programação, o secretário executivo de Ressocialização de Pernambuco (Seres), Cícero Rodrigues, falou sobre sua experiência à frente do sistema penitenciário estadual desde 2016. Entre os números apresentados, o aumento de 113% da população carcerária em Pernambuco a partir de 2007, ano que marcou o início do Pacto pela Vida. Ainda segundo o gestor, existem hoje cerca de 34 mil pessoas privadas de liberdade em Pernambuco, sendo 32% por envolvimento com o tráfico de drogas. 

“Estamos há seis anos sem uma rebelião. A última ocorreu no Complexo do Curado, causada por uma soma de situações que levaram à crise. Ainda assim, saímos de 43 óbitos nas 23 unidades prisionais, em 2016, para apenas três ao longo deste ano”, salientou. Rodrigues atribui a estabilidade do sistema ao modelo de gestão de resultados baseado na Caravana Todos pela Seres. “Com essa ferramenta, podemos medir cada unidade prisional e elaborar dois planos: um específico e outro padrão para ser aplicado a todas”, explicou.

AVALIAÇÃO – Para o tenente-coronel Uirá Ferreira, existe uma “guerra informacional” para desacreditar as ações policiais. Foto: Roberto Soares

O tenente-coronel Uirá Ferreira, comandante do Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) do Rio de Janeiro, falou, em seguida, sobre narcotráfico e facções criminosas. Segundo ele, uma das maiores batalhas das forças de segurança é o que ele chama de “guerra informacional”, caracterizada pela disseminação de notícias para desacreditar as ações policiais. “Há dias de massacre na mídia, e temos que sempre defender as tropas dos questionamentos sobre as operações. É difícil contrapor essas narrativas”, alegou.

 O comandante do Bope salientou, por fim, as semelhanças entre a ação do crime organizado no Rio e em Pernambuco, e defendeu a troca de informações entre os estados. “A facção que opera hoje na região de Ipojuca é oriunda do estado fluminense”, revelou.

Balanço

FORMAÇÃO – Para José Humberto Cavalcanti, o evento deve trazer aperfeiçoamento para a atuação das polícias em Pernambuco. Foto: Nando Chiappetta

Ao fazer um balanço do seminário, o superintendente da Escola do Legislativo (Elepe), José Humberto Cavalcanti, destaca o nível dos palestrantes e a interação deles com o público formado por profissionais de todos os níveis da segurança do estado. “As discussões de alto nível e o aprofundamento dos temas vão trazer, sem sombra de dúvida, um aperfeiçoamento para a atuação das polícias em Pernambuco”, assinalou. 

Já o delegado Rivelino Ferreira de Moraes, superintendente de Inteligência Legislativa da Alepe, explicou que o seminário foi montado a partir de discussões surgidas no curso de formação de llideranças em segurança pública promovido este ano pela Alepe. “O seminário é uma forma de valorização e capacitação profissional. E também nos permite conhecermos ideias que estão dando certo em outros estados e possam ser trazidas para Pernambuco”, disse.