
DISCRIMINAÇÃO – “Temos que levar esse debate para todos os lugares como forma de implantar uma cultura antirracista.” Foto: Roberto Soares
É urgente enfrentar o racismo estrutural dentro das corporações de segurança pública e na sociedade brasileira como um todo, acredita o deputado João Paulo (PCdoB). A questão foi alvo de pronunciamento dele na Reunião Plenária desta terça (8), em que apresentou dados e relatos de violência policial contra jovens negros de periferia.
O parlamentar repercutiu a reportagem “O baculejo tem cor”, do site Marco Zero Conteúdo. No texto, um jovem morador da Bomba do Hemetério, na Zona Norte do Recife, contou que teve a cabeça coberta por um saco e mergulhada em uma caixa d’água por policiais. “É difícil imaginar o que de fato ele sentiu em seu corpo e o que fica de revolta em sua alma diante do horror”, avaliou João Paulo.
O comunista também abordou o contexto nacional, citando estudo feito pela Fundação João Pinheiro e pelo Ministério Público de Minas Gerais. O levantamento indica que os negros têm quatro vezes mais chances de sofrer violência do que os brancos em abordagens policiais, e que representam sete em cada dez mortos ou feridos nessas situações. Além disso, 85% das pessoas que já sofreram revistas são negras, segundo pesquisa do Data Labe, entidade que atua no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.
Para João Paulo, o racismo estrutural “não é privilégio de nenhuma classe ou organização”, mas “uma ideia implantada dentro de cada um de nós” após mais de 300 anos de escravidão no Brasil. Ele observou que, embora não seja essencialmente racista, a atuação das polícias evidencia com mais clareza e frequência “a tragédia insuportável que tira as vidas de jovens de periferia”, pois são essas as instituições detentoras do monopólio do uso da força.
Ainda na avaliação do deputado, reconhecer a existência do racismo é o primeiro passo para combatê-lo. Para ele, a luta contra a desigualdade racial não deve ser uma pauta exclusiva do grupo diretamente afetado, e sim “um compromisso do conjunto de cidadãos e dos governos”. “Temos que levar esse debate para todos os lugares como forma de implantar uma cultura antirracista”, defendeu.
Voto de Aplausos
Também nesta tarde, João Paulo registrou posição contrária ao Requerimento nº 3925/2022, apresentado pelo deputado Joel da Harpa (PP) e aprovado na Ordem do Dia. Trata-se de um Voto de Aplausos ao 3° Sargento da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE) Alexandre Manoel da Silva, “pela brava reação em legítima defesa a uma tentativa de assalto que resultou na morte de dois criminosos”. O fato ocorreu em 31 de janeiro, no Viaduto Capitão Temudo, no bairro de Joana Bezerra, no Recife.
“Na condição de cristão e de ser humano, não posso me congratular com a morte de duas pessoas pobres que, muitas vezes por falta de acesso a educação, cultura ou formação religiosa, entraram no mundo do crime”, disse. Os deputados Aluísio Lessa (PSB) e Laura Gomes (PSB) também votaram contra a matéria.