Política, artes marciais, segurança pública e música. Esses são os campos profissionais de Ivalda, Raíssa, Francine, Mônica e Roberta. O que essas mulheres têm em comum? Elas ocupam espaço de protagonismo em profissões antes dominadas por homens e que, nos anos recentes, abrem cada vez mais oportunidades para o público feminino.
Ivalda Farias é a única mulher na Câmara de Vereadores de Barreiros, na Mata Sul de Pernambuco. Eleita pelo PDT, ela precisa driblar o machismo todos os dias. “É um grande desafio, porque somos 13 parlamentares e eu sou a única mulher para defender a causa. Vivemos em um mundo muito machista ainda, mas, mesmo assim, tenho desempenhado com força, vontade e determinação o meu papel.”
O desafio também é enfrentado pela atleta pernambucana Raíssa Barros, mais conhecida como “Raíssa Animal”. Ela luta caratê há quase 20 anos e acredita que a disciplina ensinada pelo esporte ajudou os atletas homens a respeitarem as lutadoras. “Quando eu comecei, há 17 anos, ainda havia muito mais meninos do que meninas praticando a modalidade. Hoje em dia, a gente ainda enfrenta alguns problemas relacionados ao machismo, mas os homens que praticam caratê são ensinados a respeitar, a mostrar igualdade.”
A experiência se repete com a escrivã da Polícia Civil, Francine Arruda. Ela afirma que conseguiu o respeito dos colegas na corporação, porém ressalta que ainda é preciso conquistar mais espaços. “Eu hoje tenho um relacionamento tranquilo com os companheiros de trabalho, mas a gente sente que há uma certa proteção à mulher policial no que diz respeito aos atendimentos de ocorrências. De vez em quando ouvimos a frase: ‘Não, você fica, você é mulher’”, contou.

PROTAGONISMO – Mônica Muniz, regente do Coral Vozes de Pernambuco, da Assembleia Legislativa, participou de debate sobre o tema. Foto: Jarbas Araújo. Foto da home: Kerol Correia/Arquivo Alepe
A desigualdade também está presente no meio musical, mas o cenário tem melhorado ao longo dos anos. Mônica Muniz, regente do Coral Vozes de Pernambuco, da Assembleia Legislativa, participou recentemente de um debate na Alepe sobre o protagonismo feminino, no qual destacou os avanços no setor. “Num momento tão difícil para essa parcela da população, de tanta luta e sofrimento, pelo menos em um aspecto – na área musical de regência – temos avançado a passos largos. Hoje nós temos grandes corais no Recife que são regidos por mulheres.”
A maestrina acredita, inclusive, que a maior participação das mulheres na regência tem contribuído para a expansão dos grupos. “Existe um mito do maestro como carrasco, que quer obter disciplina na força, que está sendo quebrado dia após dia. Percebo o surgimento de mais interessados em participar dos grupos e também a criação de corais independentes. Além disso, os coralistas têm mais prazer em cantar e isto se deve à delicadeza com que a mulher trata a música e os cantores”, pontuou.
Também presente no encontro, o grupo pernambucano Samba Soul Delas, composto só por mulheres, mostrou que é possível fazer sucesso num estilo musical em que, normalmente, são os homens que se sobressaem. “A gente mostra que mulher sabe tocar samba, que mulher tem ritmo. E fica feliz porque vê a alegria, não só das mulheres que nos veem tocar, mas dos homens, que ficam pasmos quando nos observam tocando um instrumento como o surdo, por exemplo”, destacou Roberta Pessoa, integrante da banda.
Apesar de algumas conquistas nesse universo, se percebe que ainda existe muita desigualdade no mundo profissional. No serviço público, por exemplo, as mulheres são maioria entre os aprovados, mas ocupam apenas 21,7% das posições de direção e assessoramento superior (DAS), segundo o Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística (IBGE). Em audiência pública que discutiu o tema na Alepe, a pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) Cristina Buarque analisou os números. “As mulheres realmente penetraram no serviço público, mas isso não significa que elas ocupem espaços de poder. Essa é a grande diferença. São os grandes trabalhadores desses ambientes, mas não estão nos cargos de decisão.”