Marcos Miguel
A mulher representa a maioria da população e do eleitorado no Brasil, mas ainda é minoria nos espaços de poder. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), quase 52% da população é formada por mulheres. Nas urnas, elas também estão em maior número: o eleitorado feminino foi superior ao masculino em todos os Estados nas eleições de 2016. A Justiça Eleitoral registra, no País, mais de 75 milhões de mulheres cadastradas – 6,4 milhões a mais que os homens.
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“As mulheres não têm condições objetivas de concorrer em igualdade com os homens. A elas é dado menos tempo na televisão, na propaganda eleitoral e nos espaços de direção partidária.”
Sílvia Cordeiro, secretária estadual da Mulher
Esse predomínio, porém, não é proporcional à representatividade delas na política. Na opinião da secretária estadual da Mulher, Sílvia Cordeiro, uma das razões é o desequilíbrio na competição entre os gêneros: “As mulheres não têm condições objetivas de concorrer em igualdade com os homens. A elas é dado menos tempo na televisão, na propaganda eleitoral e nos espaços de direção partidária”.Apesar de enxergar processo de reversão do quadro, Sílvia considera que ainda está distante do ideal. “A política, como é estruturada em termos da vida partidária, é hegemonizada pelo masculino”, vaticina.
Na mesma linha, a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Alepe, deputada Simone Santana (PSB), critica o modelo eleitoral. “Nós temos 35 partidos e só quatro são presididos por mulheres. O próprio sistema político já restringe a participação feminina”, argumenta.

SIMONE SANTANA – “O próprio sistema político já restringe a participação feminina”, acredita a presidente da Comissão da Mulher da Alepe. Foto: Roberto Soares
Acerca da cota de 30% das vagas das coligações para mulheres, disposta na Lei Federal nº 9.504/1997, a parlamentar avalia que não trouxe os resultados esperados. “Percebemos que os partidos agem só para cumprir a legislação. Não há um incentivo realmente para que essas mulheres sejam candidatas competitivas e consigam chegar lá”, reforça Simone.
A questão cultural também desfavorece o segmento, de acordo com Mônica Silva, vereadora de Lajedo, no Agreste Meridional: “Eu acredito que ainda existe uma cultura muito forte de que a mulher foi criada para a vida doméstica, e não para a vida pública”. Também relata que existe machismo. “Os homens, os vereadores, não aceitam dividir esse espaço com a gente.” Na Câmara de Lajedo, das 13 vagas, três são ocupadas por mulheres.
O universo político é, revelam os números, controlado pelos homens. Na Câmara dos Deputados, a bancada feminina conta com 54 representantes, pouco mais de 10% do total. No Senado, dos 81 parlamentares, 13 são mulheres. Pernambuco tem sete deputadas estaduais, dentre as 49 vagas. Durante seminário realizado na Assembleia sobre o tema, no final do ano passado, a prefeita de São Bento do Una, no Agreste Central, Débora Almeida, destacou que só 27 das 184 prefeituras de Pernambuco são comandadas por gestoras.

ENCONTRO – Em dezembro de 2017, Alepe realizou o I Seminário Estadual sobre a Participação das Mulheres nos Espaços de Poder. Foto: Sabrina Nóbrega
Esse contraste vai além dos números e passa pela qualidade do serviço entregue aos cidadãos. É o que defende Rossana Ferreira, vereadora de Toritama, no Agreste Setentrional. “Eu acho que as mulheres são mais verdadeiras, transparentes, têm maior responsabilidade e fazem o trabalho com amor. Essa é a diferença entre a política feminina e o descompromisso do machismo”, acredita.
O processo de mudança do atual cenário político, centrado no homem, depende de um esforço conjunto da população feminina, na avaliação da deputada Roberta Arraes (PSB). “Para que a gente possa ter um espaço maior nas esferas de poder amanhã, precisamos ficar juntas, unidas. Existe uma representatividade pequena hoje, em todo o País, mas tenho certeza de que vamos avançar”, opina.