Resgate e adoção de animais ainda enfrentam desafios no Brasil

Em 24/11/2017
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O convívio com bichos de estimação costuma trazer benefícios emocionais e psicológicos aos que optam por criar animais domésticos. Apesar disso, os relatos e notícias sobre maus tratos e abandono são cada vez mais frequentes em todo o País. A Organização Mundial da Saúde estima que, só no Brasil, são mais de 30 milhões de cães e gatos em situação de abandono. O número equivale à população de países como Venezuela ou Malásia.

Para a professora do Centro de Biociências da UFPE, Ariene Bassoli, coordenadora do programa Adote Um Vira-Lata, os motivos que levam ao abandono são, muitas vezes, banais. “As pessoas nem sempre estão preparadas para ter um animal. O animal requer cuidados veterinários, ele requer uma boa alimentação, ele requer carinho, ele requer passeios, ele requer atenção. Ele não é apenas um objeto que você compra e a hora que você enjoa você simplesmente descarta.” Por isso, Ariene enfatiza que criar um animal envolve, antes de tudo, responsabilidade. Ela também explica que, no Brasil, ainda são poucas as instituições que conseguem oferecer estrutura adequada no acolhimento e cuidado com animais em situação de abandono. Assim, quem acaba fazendo esse papel são, na maior parte das vezes, os chamados “protetores”, pessoas que resgatam e cuidam voluntariamente desses bichos até encontrarem um lar seguro para eles.

É o caso da engenheira agrícola e ambiental Raíssa Rattes. Hoje, ela cuida de seis animais e tem uma página no Facebook para divulgar outros casos para adoção. Raíssa diz que o espaço físico e a questão financeira são algumas das dificuldades, mas destaca outro problema: o preconceito. “A grande e principal dificuldade que a gente enfrenta é a demanda de pessoas que queiram adotar animais sem raça definida, animais que viviam na rua. Infelizmente, quando ocorre eventualmente da gente postar um animal de raça para doação, não dura cinco minutos e esse animal é adotado. Porém, quando são vira-latas, por exemplo, duram dias, meses, ou até algumas vezes a gente não consegue a adoção desse animal.”

Essa situação ficou evidente no resgate de cerca de 150 cães em situação degradante em um canil de Osasco, São Paulo, pela ONG da apresentadora Luisa Mell. Muitos deles eram de raça, como yorkshires, pugs e lhasa apsos. Algumas semanas depois, a entidade organizou uma feira de adoção, mas o público esvaziou o evento quando soube que os cães de raça não estariam na feira. A professora Ariene Bassoli ressalta que as raças animais são uma invenção humana, criadas em laboratórios para atender nossa vaidade. “As pessoas têm que entender que os animais de raça não são uma coisa natural, e que não precisam existir animais de raça. Que qualquer cachorro ou gato, sendo sem raça definida, podem te dar as mesmas coisas que um animal de raça pode te dar.” 

A geógrafa Jessica Menezes, que já adotou um cachorro e dois gatos, concorda. “Existem muitos animaizinhos que são abandonados nas ruas, e eu não vejo realmente a necessidade de se comprar um animal. Tem tanta disponibilidade, tantos precisando de um lar, ser adotados, e eu não entendo por que alimentar um comércio de animais.” Para ela, os bichos se adaptam facilmente às condições oferecidas pela nova família, por isso, acredita que o mais importante é ter o coração aberto para acolher os animais.

Quem tem vontade de adotar, deve procurar por entidades, protetores e feiras de adoção no local onde mora. O processo normalmente envolve uma entrevista e a assinatura de um termo de responsabilidades. Já para quem resgata, a orientação é procurar a ajuda de um profissional sempre que necessário, como explica o presidente da Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais, Marcelo Teixeira. “Se o animal estiver sentindo dor, estiver arredio, com dificuldade de pegar, já é bom levar alguém profissional para resgatar esse animal. Porque no momento em que vai pegar na rua, pode ser agredido pelo próprio animal. E ao resgatar, imediatamente levar ao médico veterinário para fazer uma análise, uma avaliação da condição desse animal.” Na clínica, os bichos são tratados, e recebem remédios e vacinas para evitar a transmissão de doenças. Muitos veterinários oferecem descontos no tratamento em casos  de resgates.