O fim do racismo institucional e das prisões em massa foram algumas das reivindicações apresentadas pela sociedade civil na audiência pública que marcou, na Alepe, o Dia da Consciência Negra, comemorado nessa segunda. Para Mônica Oliveira, da Rede de Mulheres Negras, retrocessos nas políticas sociais no contexto nacional refletem uma reação das elites a pequenas mudanças, como o acesso da população negra às universidades e ao mercado de trabalho. Por outro lado, os programas antidrogas têm contribuído para as prisões e o assassinato em massa do povo negro. “É uma política de extermínio. A guerra às drogas, que é a grande desculpa para o assassinato em massa dos jovens negros e para a prisão das mulheres negras, é uma justificativa que não cabe mais e isso vem sendo denunciado há muito tempo.” Ela destacou que a população negra feminina lidera o ranking de feminicídios e é a mais atingida pelo vírus da zika na gravidez.
O promotor de direitos humanos do Ministério Público de Pernambuco, Westei Conde, criticou a falta de diálogo com sociedade na construção de políticas públicas. Ele citou como exemplo o envio para a Alepe de projeto de lei que cria o Conselho Estadual de Segurança Pública, sem a participação da população negra, mais atingida pela violência, e orientou a sociedade civil a cobrar mais do Ministério Público o cumprimento do papel constitucional de defesa de direitos.
A ialorixá Denise D’Ogum Botelho, professora do Departamento de Educação da Universidade Rural de Pernambuco, falou sobre a importância de preservar as religiões de matrizes africanas e reclamou do descumprimento da lei que obriga o ensino da história afro-brasileira nas escolas públicas. “É mais da metade da população do Brasil que tem a sua história negada, que tem a sua história efetivamente deturpada por uma lógica colonizadora que nos colocou numa situação de subalternidade.” Luiza Cavalcante, do Coletivo Cabelaço, denunciou ação violenta da Polícia Militar contra jovens negros na saída do festival de cultura MIMO , em Olinda, no último domingo.
Presidente da Comissão de Cidadania, o deputado Edilson Silva, do PSOL, comemorou a diversidade de vozes presentes à audiência. “Foi uma audiência que não teve o objetivo de trazer o Estado para que nós ficássemos fazendo reclamações. Quem esteve aqui sabe que nós primeiro precisamos nos empoderar ainda mais para poder estabelecer com o Estado uma negociação em um outro patamar”
O evento contou com apresentações de hip hop e uma intervenção que utilizou realidade virtual para denunciar a superlotação nas unidades prisionais.