“A vida depois da zika”: início do surto e cuidados para evitar infecção

Em 28/07/2017
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“Tive zika. Fiquei toda vermelha, muita coceira no corpo.” “Eu cheguei a ter umas manchinhas na barriga e nas costas, mas foram raras.” “Eu tive só as manchinhas no corpo, que durou 24h.” “Não tive zika, não tive nada.”

Quando foram diagnosticados os primeiros casos de zika no Brasil, em 2015, a doença era tratada como uma “dengue leve”, porque é mais rápida e tem sintomas mais fracos. Além disso, o vírus pode se manifestar de várias formas e até mesmo não dar sinais, como contam Nadja, Eliane, Daniele e Maria das Dores, mães de crianças que nasceram com microcefalia em Pernambuco. O coordenador de Síndromes Congênitas e Neurológicas relacionadas às Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde, Jadson Galindo, explica que o zika era um vírus pouco estudado pela medicina até então. “Não se tinha relato na literatura nem conhecimento científico de uma possibilidade, que foi o que acometeu o estado de Pernambuco e mais especificamente a região Nordeste, das alterações neurológicas que o vírus poderia causar nos bebês de mães que tiveram vírus zika.”

Mãe de Arthur, de um ano e oito meses, Rozilene Ferreira apresentou sintomas durante a gravidez. Com manchas vermelhas na pele, ela achou que fosse apenas alergia. Os exames do pré-natal não indicaram problemas de saúde no bebê. “Quando ele nasceu, que viram que ele tinha micro, eu passei 27 dias internada para descobrir qual foi o vírus que causou a microcefalia. Não se sabia da relação com a zika, eles pensavam que eram outros vírus.”

Na falta de conhecimento científico, surgiram boatos de que a crise na saúde foi motivada por vacinas fora da validade, pesticidas e até um mosquito transgênico. Teses que foram descartadas, segundo o infectologista da Universidade de Pernambuco e integrante do Grupo de Pesquisa da Epidemia de Microcefalia da Fiocruz, Demócrito Miranda. “A fase final do estudo está sendo publicada agora, que exclui a possibilidade de outros fatores que inicialmente foram levantados, como, por exemplo, a introdução de uma vacina nova contra difteria, tétano e coqueluche, também ao uso de inseticidas e larvicidas. E confirmando essa associação da infecção congênita pelo vírus zika e a ocorrência de microcefalia.”

Mãe de uma bebê com microcefalia, a estudante de jornalismo Daniela Venâncio não apresentou sintomas. No caso dela, a suspeita é de que o marido tenha transmitido o vírus na relação sexual. “O médico que o atendeu falou assim: ‘olha, tá circulando um vírus novo na Bahia, e eu acho que você tem todas as características de estar com esse vírus novo.’ E eu estava com seis meses, seis pra sete meses de gestação. Eu também deveria estar exposta a esse mosquito, ou ele deve ter passado pra mim.”

O infectologista Demócrito Miranda confirma que é possível transmitir o zika vírus pela relação sexual. “Por isso que a gente tem que alertar que as pessoas que estão vivendo em área endêmica, as mulheres grávidas, têm que ter realmente esse cuidado, para não se contaminar, tanto por via sexual quanto pela picada do inseto.”

Em 2017, Pernambuco não registrou o nascimento de nenhuma criança afetada pela Síndrome e, até o início de julho, nenhum caso de paciente com zika vírus foi confirmado. Mas de acordo com a Secretaria de Saúde 88% dos municípios pernambucanos estão em situação de risco elevado para transmissão de zika, dengue e chikungunya. A coordenadora de Vigilância Epidemiológica de Arboviroses da Secretaria Estadual de Saúde, Daniela Bandeira, aponta a dificuldade no abastecimento de água como um dos fatores que contribuem para a reprodução do Aedes aegypti, transmissor dos três vírus. “Se a população não tem água na torneira, ela vai armazenar água e, geralmente, vai armazenar água de forma inadequada e da maneira que tem condições para armazenar. E a questão de resíduos sólidos, o lixo, a rotina de coleta diária de lixo, é bastante importante.”

Algumas das recomendações para evitar os focos do mosquito são: tampar os reservatórios de água, manter fechados os sacos e latas de lixo, desentupir as calhas e não deixar água parada em garrafas, pneus e outros recipientes.

Para mais informações, acesse www.combateaedes.saude.gov.br.