Panteão pernambucano eterniza trajetórias de bravura e lutas por direitos

Em 30/08/2024 - 08:08
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Em grego, “Pan significa “todos” e “Theós, “deus”. Portanto, a combinação das duas palavras (“pántheion”) surgiu, em contextos religiosos e filosóficos, para designar o conjuntos de deuses de uma civilização.

HISTÓRIA – Inicialmente dedicado aos deuses da mitologia clássica, panteão romano tornou-se basílica católica. Foto: Reprodução / Internet

Em Roma, um panteão foi edificado durante o reinado do imperador Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.) como templo de adoração aos deuses e representação da harmonia e da inteligência construtiva do império. No período de esfacelamento da civilização romana, quando transformado numa Igreja Cristã no século VII, o local tornou-se o mausoléu de mártires e personalidades ligadas à história italiana, como o pintor Rafael Sanzio (1483 – 1520).

Mais de dois milênios separam a construção romana da atualidade, mas sua simbologia permanece viva. No coração do Recife, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) resolveu abraçar a mensagem celebrada em Roma com o seu Livro do Panteão dos Heróis e das Heroínas de Pernambuco – Fernando Santa Cruz.

Memória

BRASÍLIA – Panteão da Pátria e da Liberdade  Tancredo Neves expõe desde 1986 o Livro de Aço. Foto: Agência Brasil

A prática de adotar um livro em que constam nomes e biografias de cidadãos que prestaram serviços relevantes à sociedade, resguardando a memória de seus feitos para a posteridade, foi adotada pelo Estado Brasileiro na década de 1980. O Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves reside em Brasília desde 1986, expondo permanentemente o Livro de Aço, no qual constam homenageados, inclusive, pernambucanos, como Zumbi dos Palmares, Frei Caneca, Bárbara Pereira de Alencar e Luiz Gonzaga.

Mas Pernambuco, com sua história carregada de resistência, pluralidade e lutas por independência, pretende guardar um registro próprio. Por isso, a iniciativa do Livro do Panteão dos Heróis e das Heroínas de Pernambuco – Fernando Santa Cruz,  sugerida em 2019 por meio de projeto de resolução do ex-deputado Isaltino Nascimento (PSB), foi incorporada à Resolução nº 1.892/2023, da Mesa Diretora, que disciplina os prêmios, medalhas, títulos honoríficos e demais honrarias concedidos pela Alepe.

BRASIL – O Livro dos Heróis preserva os nomes de figuras que marcaram a história do país. Foto: Agência Senado

A ideia é que, futuramente, um livro nos moldes do que existe em Brasília seja depositado no Museu Palácio Joaquim Nabuco, destinando-se ao registro perpétuo do nome de pessoas ou grupo de pessoas que tenham marcado a história do Estado.

“A memória de um povo é a sua própria identidade. Nenhum povo estabelece vínculos com seus semelhantes, sem que sejam consideradas suas tradições culturais, sua história e as personagens que forjaram sua fundação e gravaram nos corações de seus concidadãos, o sentimento de orgulho por pertencer ao corpo de sua gleba, num sentimento de nação”, afirma Nascimento, atualmente superintendente geral da Alepe, na justificativa da proposição.

“Assim é o povo pernambucano, o estado que já foi país e que protagoniza, desde a invasão europeia dos colonizadores, todas as lutas libertárias em solo brasileiro. Foi a província-mater de boa parte dos demais estados do Nordeste. Estado fundamental na construção da nação brasileira, palco das maiores insurgências políticas e militares, terra de artistas notórios, cenário de belezas inestimáveis, rico em cultura e farto de heróis e heroínas”, prossegue.

Heroísmo

DITADURA – Fernando Santa Cruz, que dá nome ao livro do Panteão Pernambucano, foi vítima de sequestro, tortura e morte. Foto: Acervo da família

O livro pernambucano, que por enquanto não possui exemplar físico, se destina a personalidades que tenham marcado a história de Pernambuco ou cuja bravura e heroísmo tenham contribuído com a formação da identidade pernambucana, a defesa dos direitos humanos ou a luta pela democracia e justiça social. Cada deputado pode indicar um nome por ano. As anotações que eternizam trajetórias de bravura e defesa dos direitos humanos e da democracia.

A começar pelo homenageado no nome do livro. Fernando Santa Cruz (1948-1974), recifense, foi militante do movimento estudantil secundarista e engajou-se na luta contra a ditadura militar. 

Sofrendo perseguições, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1968, ano do Ato Institucional nº 5 (AI-5), onde foi sequestrado pela repressão em 1974, aos 26 anos, e desapareceu. Símbolo da resistência pela democracia, Santa Cruz foi o primeiro dos homenageados no Livro dos Heróis e das Heroínas de Pernambuco, tendo seu nome no próprio título da obra.

Legados

Nomes importantes da história de Pernambuco já foram inscritos no Livro do Panteão, como Miguel Arraes, Bárbara de Alencar, Dom Helder Câmara, Ariano Suassuna e Eduardo Campos (ver quadro no final da matéria). São personalidades que contribuíram para construir o Pernambuco que conhecemos hoje.

O Panteão Pernambucano se mostra como uma oportunidade de eternizar os nomes que contribuem para a identidade de um povo, sendo um símbolo de reverência aos legados que enriquecem nossa cultura. Ariano Suassuna, que teve a indicação aprovada no último dia 20 de agosto, certamente não será o último a ser integrado. Esta é uma tradição que ainda possui muito espaço em suas páginas, e Pernambuco de fato tem farto material para preenchê-las.