O debate sobre a possível construção de uma usina nuclear em Pernambuco foi aprofundado pelos parlamentares da Alepe nesta quarta (25). Pela manhã, um grupo visitou o Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE) para conversar com cientistas que trabalham na área e são a favor da instalação do equipamento. À tarde, o assunto foi tema de pronunciamentos dos deputados Antonio Fernando (PSC) e João Paulo (PCdoB) durante a Reunião Plenária.
Na visita ao CRCN, localizado na Cidade Universitária, no Recife, o presidente da instituição, Carlos Brayner, recebeu os deputados Alberto Feitosa (SD), Wanderson Florêncio (PSC), Antonio Fernando e João Paulo. Os parlamentares também visitaram o Museu de Ciências Nucleares da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), coordenado pela professora Helen Khoury.
A especialista defendeu a segurança do uso de fontes nucleares para geração de energia. “Os temores ocorrem pela falta de conhecimento, pois todo o processo de uma planta nuclear tem requisitos de segurança totalmente controlados, com regras e monitoramento segundo normas nacionais e internacionais. A instalação de uma usina em nossa região só vai trazer benefícios, gerando desenvolvimento econômico e social”, considerou Khoury. Ela registrou, como exemplo, que a França possui usinas nucleares dentro das cidades.
A posição da professora foi reforçada, em Plenário, por Antonio Fernando. Ele ressaltou que a construção da usina representaria um investimento de R$ 30 bilhões em Itacuruba, no Sertão do Itaparica. “Seria o valor de todo o orçamento anual de Pernambuco investido num único município. Além disso, geraria uma quantidade de energia equivalente a toda a produção da Chesf. Seria mais arrecadação de ICMS e de royalties para o Estado”, argumentou. Em aparte, Alberto Feitosa considerou que a vinda da usina é “uma ‘mega-sena’ acumulada, pronta para ser retirada pelo Governo de Pernambuco e pela Prefeitura de Itacuruba”.
Por outro lado, João Paulo se manifestou contra a construção de um complexo nuclear no Estado. “Esse tipo de produção energética está sendo abandonado por vários países não apenas por seus riscos, que são consideráveis, mas pela existência de fontes mais seguras, limpas e baratas”, afirmou o deputado.
O parlamentar do PCdoB apontou, ainda, que a usina pode aumentar em até cinco graus a temperatura do Rio São Francisco nas proximidades, além de provocar a derrubada da mata ciliar e da vegetação local em todo o canteiro de obras. “Isso teria impactos sobre o bioma, afetando a economia e a vida dos pescadores e dos consumidores da região.” Além disso, ele avalia que a contratação de mão de obra só gerará emprego na fase de construção, ao mesmo tempo em que aumentará o custo de vida na localidade.
João Paulo também relembrou os acidentes nucleares ocorridos na Pensilvânia, nos Estados Unidos; em Chernobyl, na Ucrânia; e em Fukushima, no Japão. “São raros, mas as quando ocorrem têm um poder devastador que se estende por quilômetros e perdura por séculos”, pontuou. Outra questão apontada é que os sistemas de geração nuclear precisam ser desmontados depois de algumas décadas. “É um problema ambiental muito sério, porque já se calculou que custará mais caro desmontar uma usina abandonada e dar destino seguro ao material radioativo, do que construir uma nova”, considerou.
As afirmações de João Paulo foram questionadas por Alberto Feitosa e Antonio Fernando. O primeiro ressaltou que a implantação de usinas hidrelétricas e solares provoca desmatamento muito maior do que a instalação das nucleares. “E não podemos pensar apenas nos postos de trabalho diretos, mas nos indiretos também. A construção representará uma revolução de empregos na região. E podemos criar um fundo social com os recursos, como foi o modelo pensado pela presidente Dilma para utilizar as verbas do Pré-Sal”, frisou.
Já segundo Fernando, a informação de que a temperatura do Rio São Francisco pode aumentar não procede. “A água volta para o rio na mesma temperatura que entrou. Antes de ser devolvida, ela passa por chaminés de resfriamento. A fumaça que vemos saindo de usinas nucleares não é poluente, mas sim de vapor d’água”, observou o parlamentar do PSC.
Em aparte, o deputado José Queiroz (PDT) afirmou que hoje se absteria de votar em projetos que autorizassem a construção da usina. Ele disse ainda que buscará se aprofundar no debate. “Vemos aqui opiniões diferentes sobre o assunto, e é discutindo que vamos chegar a uma conclusão”, considerou.
Está prevista uma audiência pública sobre o tema na Alepe no próximo dia 7 de outubro. Além disso, os parlamentares pretendem visitar usinas nucleares em Angra dos Reis (RJ), entre os dias 16 e 18 do mesmo mês.