
ESCLARECIMENTOS – Oposição questionou suposto pedido de apoio financeiro para Paulo Câmara em 2014. Governistas defenderam legalidade do procedimento. Foto: Roberto Soares
As menções ao governador Paulo Câmara e ao prefeito do Recife, Geraldo Julio, feitas por um executivo da JBS em acordo de delação premiada firmado com a Justiça, repercutiram na Reunião Plenária desta segunda (22). De acordo com Ricardo Saud, diretor de Relações Institucionais da Holding J&F, os políticos do PSB pediram apoio financeiro da empresa para a campanha de Câmara ao Governo do Estado, em 2014. A Oposição cobrou mais esclarecimentos sobre o fato, enquanto parlamentares governistas defenderam a legalidade do procedimento.
Líder oposicionista, o deputado Sílvio Costa Filho (PRB) afirmou que “age com responsabilidade” e que “não faria nenhum pré-julgamento”. O parlamentar indagou, no entanto, se o encontro citado pelo delator com os políticos realmente ocorreu. “Baseado nesta informação, a Oposição poderá fazer uma reflexão maior sobre a matéria. Aguardamos uma manifestação oficial de Paulo Câmara”, disse Costa Filho, que criticou a nota divulgada pelo governador, na última sexta (19), repudiando as declarações de Saud. “O documento não é esclarecedor”, alegou.
O encontro entre os pernambucanos e o executivo da JBS foi confirmado pelo vice-líder do Governo, deputado Tony Gel (PMDB), durante o Grande Expediente. O parlamentar argumentou, no entanto, que os políticos buscavam doações empresariais declaradas, o que era legalmente permitido nas campanhas de 2014. “Geraldo Julio e o governador pediram o apoio da empresa, obviamente dentro da lei, mas não o tiveram. A resposta dos representantes era que eles não teriam como contribuir com Pernambuco porque estavam comprometidos com a campanha do ex-governador Eduardo Campos para a presidência”, declarou. “Nenhum centavo da JBS veio para a campanha de Paulo Câmara”, assegurou o peemedebista.
Em apartes, os deputados Lucas Ramos (PSB) e Rodrigo Novaes (PSD) reafirmaram as declarações de Tony Gel, que disse estar defendendo “dois homens inocentes”. “A JBS doou, de forma legal e informada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Todos os repasses foram feitos ao diretório nacional do partido”, afirmou Ramos. “Acho uma infelicidade o delator usar o termo ‘propina’. Ele se contradiz quando afirma que nenhuma contraprestação foi buscada naquela conversa”, acrescentou Novaes. Também em aparte, o deputado Joel da Harpa (PTN) defendeu a apuração dos fatos. “Não estamos aqui nem para inocentar nem para incriminar o Governo”, posicionou-se.
“Não se pode confundir doação de campanha com propina”, alertou Antônio Moraes (PSDB), que pediu “prudência” do Judiciário em seu discurso no Grande Expediente. O parlamentar criticou os termos do acordo de delação firmado entre a Procuradoria Geral da República (PGR) e os executivos da JBS. “Depois de dizer que compraram 1,8 mil políticos, de fazer grampos de telefone e de gravar conversa com o presidente da República, os irmãos Batista sequer foram obrigados a usar tornozeleira. Eles vão pagar uma multa de apenas R$ 225 milhões, que representa 1,7% dos R$12,8 bilhões que eles arrancaram do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) durante o Governo Lula”, alegou.
Terezinha Nunes (PSDB) e Eduíno Brito (PP) reforçaram, em apartes, as críticas ao acordo envolvendo a PGR e a JBS. “Sabemos da relevância das delações para o desenvolvimento da Lava Jato. No entanto, a forma como esse acordo foi orquestrado pode desmoralizar a operação”, disse a tucana. “O instituto da delação é importante, mas precisamos refletir mais sobre a questão, tendo em mente sempre o interesse público”, acrescentou Brito.
“Não é possível querer justificar os episódios lamentáveis que estão acontecendo no Brasil e tentar colocar esta conta nos ombros de Lula”, alegou o deputado Odacy Amorim (PT), que foi à tribuna, durante o Grande Expediente, pedir campanhas “mais simples e baratas”. O parlamentar disse, ainda, temer que as constantes denúncias de corrupção promovam uma descrença generalizada da população na política. “Senão veremos uma caça aos políticos e o surgimento de demagogos, alimentados por dinheiro do narcotráfico ou outras ações ilegais”, opinou.