Industrializar regiões afastadas dos grandes centros ainda é desafio

Em 29/08/2016 - 14:08
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INTERIORIZAÇÃO  – Empregos formais gerados pela indústria estão em municípios como Goiana, onde funciona o Polo Vidreiro. Foto: Rinaldo Marques

Levar indústrias para o Interior é um bom negócio. Pelo menos é o que sugere a existência de 15 distritos industriais fora da Região Metropolitana do Recife (RMR) gerenciados pela Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (AD Diper). Considerado “motor” do progresso por especialistas, o setor tem potencial para, além da sempre lembrada geração de empregos, encadear outras atividades em torno de si ao impulsionar a demanda por matérias-primas, tecnologia e serviços.

Assim aconteceu no Agreste, onde mais de 18 mil empresas instaladas em Caruaru e municípios vizinhos, com faturamento estimado em R$ 4 bilhões por ano, compõem o segundo maior Polo Têxtil do Brasil, atrás apenas do localizado em Americana, no interior de São Paulo. No Sertão do Araripe, onde se produz praticamente todo o gesso do País, cerca de mil empreendimentos geram receitas superiores a R$ 1 bilhão e empregam mais da metade da população do entorno de Araripina, distante quase 700 quilômetros da Capital. Em comum, o fato de os dois polos serem compostos por pequenos negócios em cadeia, especializados em fabricar itens específicos e que servem de fornecedores uns para os outros.

Projetos para constituir uma densa malha produtiva longe dos grandes centros urbanos, no entanto, nem sempre têm os resultados esperados. Em Serra Talhada, Sertão do Pajeú, o terreno destinado ao distrito industrial do município deve ser posto à venda pelo Governo do Estado, quatro anos após ser adquirido, sem que nenhuma empresa tenha demonstrado interesse em se instalar no local. “Faz décadas que defendemos a criação do distrito e hoje esse sonho está sendo frustrado”, comenta o primeiro vice-presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e ex-prefeito da cidade deputado Augusto César (PTB).

O parlamentar acredita que, apesar dos incentivos fiscais de até 95% oferecidos, faltaram investimentos em infraestrutura que tornassem a região mais atrativa para a indústria. “Serra Talhada tem instituições de Ensino Superior aptas a qualificar os trabalhadores, o imóvel é próximo a um aeroporto e a rodovias importantes, mas o que sempre se viu ali foi um matagal”, lamenta.

Diagnóstico semelhante faz a geógrafa e pesquisadora em desenvolvimento regional Ana Cristina Almeida Fernandes, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Para a professora, a estratégia praticada pela maioria dos gestores públicos se resume a doar terrenos e conceder benefícios fiscais, o que é um “desperdício de recursos públicos” e tem se revelado pouco eficaz. “A indústria precisa de condições que não necessariamente estão disponíveis em todos os lugares”, explica. “Empresas que se instalam motivadas apenas pela redução da cobrança de impostos e oferta de mão de obra barata se vão tão facilmente quanto chegam, porque há uma porção de gestores oferecendo o mesmo.”

O uso intensivo de tecnologia de ponta por determinados setores industriais se apresenta como uma barreira a mais para regiões cuja oferta de educação superior é deficiente. No caso de indústrias baseadas na produção científica, cujo desempenho requer elevados níveis de conhecimento, o entrave se revela ainda mais evidente. A implantação e operação dessas fábricas têm forte relação com o avanço da pesquisa científica de base, o que nem sempre está facilmente disponível. Os negócios em instalação no Polo Farmacoquímico de Goiana, na Mata Norte, – que somam R$ 1 bilhão em investimentos – possuem essa característica.

Fatores como esses se traduzem nos dados organizados pela AD Diper na plataforma Atlas do Investidor, segundo a qual 87% dos empregos formais gerados pela indústria concentram-se na regiões Metropolitana do Recife, do Agreste Central e da Zona da Mata Norte e Sul. Somadas, elas também polarizam 79% dos investimentos industriais desde 2014.

Segundo Ana Cristina Fernandes, aproveitar a produção científica desenvolvida no Estado faz parte da estratégia do Governo de Pernambuco para Goiana, que terminou por atrair a Hemobrás, fabricante de hemoderivados e âncora do projeto. “Acontece que, mais do que viabilizar a construção de fábricas, é preciso induzir uma interação sistemática entre instituições de pesquisa e empresas, baseada nas competências tecnológicas locais”, aponta. “Ou se criam as condições para garantir a sustentabilidade dos empreendimentos ou chegará o dia em que eles irão embora”, alerta.

Em maio, o Executivo Estadual pediu autorização à Assembleia Legislativa para reverter doações de terrenos a empresas que pretendiam se estabelecer no Polo Farmacoquímico, mas não levaram à frente seus projetos. É o caso da multinacional italiana Bomi Group, especializada em logística de materiais de alta tecnologia para a saúde, e das fabricantes de cosméticos brasileiras Vita Derm e Normix. Procurada pela reportagem, a direção da Normix explicou que a dificuldade para a liberação de crédito junto a entidades de fomento contribuiu para a desistência.

Por meio da assessoria de comunicação, a AD Diper comunica que as demais empresas do polo em Goiana mantêm seus projetos em execução, e os terrenos devolvidos ao Estado poderão ser disponibilizados para outras companhias do setor que tiverem interesse em se instalar na região. “A crise econômica piora as expectativas para novos empreendimentos, mas o Governo do Estado continua com seus esforços para atrair investimentos para Pernambuco”, informa a nota.