Joaquim Nabuco, mais que um abolicionista

Em 23/04/2010 - 00:04
-A A+

De um lado, o abolicionista, monarquista de ideais liberais, escritor e diplomata. Do outro, um eterno vaidoso, sedutor de habilidade inconteste com as palavras, e, por vezes, um solitário, que fazia das idas ao Velho Continente uma fuga. Esse era Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo, um homem que decidiu unir a própria história à do País. Um pernambucano, filho do advogado e senador baiano, José Tomás Nabuco de Araújo, e de Ana Benigna Sá Barreto, que, até os 8 anos, foi criado pelos padrinhos Joaquim Aurélio Pereira de Carvalho e Ana Rosa Falcão de Carvalho.

Nas terras do casal, especificamente no Engenho Massangana – Cabo de Santo Agostinho -, teve os primeiros contatos com a escravidão. Foi na posse dos Carvalhos que conheceu a ama de leite “Mãe Rosa”, de quem, segundo dizia, “absorveu o leite preto da escravidão”. O mesmo cenário reservou outro capítulo especial à biografia de Quinquim, como era chamado Nabuco quando criança.

Sentado na escadaria da Casa Grande, o então senhorzinho viu surgir o caminhar sôfrego de um escravo. Exausto, aparentando ter 18 anos, o rapaz lançou-se aos pés do menino e, às súplicas, pediu que o comprasse.

O jovem havia fugido das terras do algoz, onde corria risco de morte. A dor estampada na face e a imagem do escravo caído serviram ao pernambucano como uma mão a puxar a coberta. A cena despertara Nabuco para os males do período escravocrata. As “benesses” de ter sempre um negro a postos para lhe dar o que quisesse, inclusive afeto, perderam sentido. O rapaz fugido denunciava as atrocidades do sistema com o qual o futuro abolicionista convivia “familiarmente”. “Meus moldes de ideias e sentimentos datam quase todos dessa época”, argumentou, no livro Minha Formação. Era o princípio do abolicionista.

Pouco tempo depois daquele episódio, o menino, que já havia perdido o padrinho, sofreria com a morte da madrinha Ana Rosa. Trazido de volta ao convívio dos pais biológicos, cuja moradia se fixou no Rio de Janeiro, Quincas passou a ser educado, formalmente, na Escola D. Pedro II. Jovem, vaidoso e sedutor, ainda na adolescência, adotou o estilo europeu no modo de se vestir. Já em 1870, aos 21 anos, formou-se em Direito e, sob direcionamento do pai – ministro da Justiça por duas ocasiões e senador –, toma gosto pela política.

Para o historiador e escritor do livro Joaquim Nabuco: Entre a Monarquia e a República, Fernando da Cruz Gouvea, Joaquim Nabuco foi um predestinado.

Primeiramente, pelo acesso à política, por meio do pai, Nabuco de Araújo, entrando em contato com as massas. Segundo, por ter sido um intelectual – apesar do desempenho mediano na faculdade, falava mais de um idioma além da Língua Portuguesa. “Em um sinal de coragem abraçou a causa abolicionista, contrariando muitas autoridades que defendiam a manutenção do sistema. Pela segurança e fidelidade aos seus ideais entrou para a vida pública”, observou.