Queda na qualidade do serviço, desrespeito ao consumidor e estímulo ao desemprego. Esse panorama foi traçado em audiência pública da Comissão de Defesa da Cidadania, ontem pela manhã, e refere-se à transferência do serviço 102 para a Bahia, com a demissão de 136 deficientes que prestavam o atendimento via Telpe. Diante das denúncias contra o sistema, operado hoje pela Telemar, o deputado Pedro Eurico (PSB) sugeriu que a Assembléia Legislativa levasse os fatos ao conhecimento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Já o deputado João Paulo (PT) quer marcar audiência com o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), “para exigir uma posição política sobre o assunto”.
Vítima dos “desserviços” prestados pelo 102, o deputado João de Deus (PTB) chegou a gravar ligações, reproduzidas na reunião, onde as deficiências são constatadas. Em uma das chamadas, o deputado pediu o número do Lafepe (Laboratório Farmacêutico de Pernambuco) e a atendente perguntou se se tratava de uma pessoa. Depois, o parlamentar solicitou o telefone do Dere do Agreste Meridional, e foi questionado se o órgão mencionado era um hotel, antes de o telefonema ser cortado abruptamente. “Nossa finalidade não é só apontar erros, mas, como diz o ditado, quem não tem competência, não se estabelece”.
Após registrar diversas reclamações de consumidores, a Defensoria Pública do Estado resolveu encaminhar uma ação de antecipação de tutela, em tramitação na 18ª Vara Cível da Capital, onde são pedidos o retorno do serviço a Pernambuco e a reintegração dos deficientes demitidos. “O usuário tem o direito de ser respeitado e isso não vem ocorrendo”, comentou a gerente do Centro de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública, Cristina Sakaki. Outra queixa ao serviço da Telemar diz respeito ao congestionamento da linha de reclamações sobre contas telefônicas, o que também se estende ao quiosque montado no Shopping Guararapes, sempre marcado por “filas quilométricas”.
As críticas dirigidas à transferência do 102 foram reforçadas pelos representantes da CUT, do Sintel e da Fraternidade Cristã dos Deficientes (FCD) presentes à audiência. “Se a empresa quiser prestar um bom serviço, deve rever essa decisão”, afirmou Jorge Perez, presidente da CUT. Na opinião de Ricardo Queiroz, presidente do Sintel, se a Telemar estivesse operando na perspectiva do usuário, não teria transferido, mas descentralizado o serviço. Segundo o gerente de Recursos Humanos da FCD, Sérgio Ricardo Sá, a transferência foi justificada pelo número de reclamações dirigidas ao 102, que, já vinha sofrendo redução gradual de atendentes. (Simone Franco)