Ano de Paulo Freire: comissão organizadora realiza encontro inaugural

Em 14/10/2020 - 20:10
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RAÍZES – “Pernambuco tem compromisso com legado hoje afrontado pelo obscurantismo que toma conta da educação no nosso País”, disse Teresa Leitão. Foto: Evane Manço

A Comissão de Educação e Cultura da Alepe constituiu, nesta quarta (14), o grupo responsável por organizar o Ano Estadual do Educador Paulo Freire. Integrantes dos Poderes Legislativo e Executivo de Pernambuco, junto com representantes da sociedade civil e de instituições de ensino, vão programar e realizar, ao longo de 2021, as atividades oficiais em homenagem ao 100º aniversário de nascimento do educador recifense. O encontro ocorreu por videoconferência.

Com livros traduzidos em mais de 40 idiomas, Paulo Reglus Neves Freire é referência internacional e, desde 2012, considerado Patrono da Educação Brasileira. Responsável por um método inovador de alfabetização, completaria, se estivesse vivo, 100 anos no dia 19 de setembro de 2021. Aprovada por unanimidade, a resolução por meio da qual a Assembleia Legislativa de Pernambuco se prontifica a coordenar as celebrações foi proposta pela deputada Teresa Leitão (PT). Atualmente, a Casa já o reverencia como um dos méritos da Medalha Leão do Norte, entregue uma vez por ano a pessoas que se destacam na área da educação.

Teresa, que integra a comissão organizadora na condição de representante da Mesa Diretora da Alepe, enfatizou que o Estado não foi apenas a origem do pensador, mas o local onde ele implementou algumas de suas principais experiências filosóficas e educacionais. “Pernambuco tem responsabilidade, compromisso e dívida com esse legado hoje afrontado pelo obscurantismo que toma conta da educação em nosso País. E é importante que a Casa do Povo tome para si esta tarefa”, assinalou a petista.

OBRA – Para Romário Dias, reconhecimento do pedagogo “resiste aos que tentam difamá-lo”. Foto: Evane Manço

Presidente da Comissão de Educação, o deputado Romário Dias (PSD), que também faz parte do grupo, afirmou que o reconhecimento de Paulo Freire como uma das figuras mais importantes do Brasil “resiste aos que tentam difamá-lo”. Secretária-executiva da pasta de Educação e Esportes, Ana Selva explicou que o órgão estadual já planeja ações para que o homenageado “esteja presente na vida dos estudantes e profissionais da educação” em 2021.

A conselheira Maria Iêda Nogueira salientou a relação do Conselho Estadual de Educação com Paulo Freire. Ela informou que uma das atividades confirmadas para setembro do próximo ano será a entrega da medalha da entidade que também reverencia o educador. Iêda citou, ainda, o pensamento do pedagogo sobre a importância da crença de que estamos no mundo para transformá-lo por meio de sonhos e projetos.

A professora Maria Eliete Santiago, coordenadora da Cátedra Paulo Freire da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), relembrou a experiência do educador, em 1963, na cidade de Angicos, a 170 quilômetros de Natal (RN). Ali, 300 pessoas foram alfabetizadas em 40 horas a partir do método freireano. “Comemorar o centenário dele significa ter referências teóricas, metodológicas, de vida e de projetos político e educacional”, pontuou.

Ainda compõem a comissão organizadora do Ano Estadual do Educador Paulo Freire o deputado Professor Paulo Dutra (PSB) e a jornalista Roziane Fernandes, representante da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). A resolução que criou o grupo de trabalho também garante a presença de membros do Centro Paulo Freire e da Cátedra Paulo Freire da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

MÉTODO – Coordenadora de cátedra da UFPE, Maria Eliete Santiago relembrou experiência em Angicos, onde 300 pessoas foram alfabetizadas em 40 horas. Foto: Evane Manço

Vida e obra – Ao enxergar a educação como um ato político, Paulo Freire desenvolveu um método que visa à emancipação humana, contribuindo para a transformação de alunos e professores. As ideias dele começaram a ser difundidas em 1959, com a edição do seu primeiro livro, Educação e Atualidade Brasileira.

Escrito durante exílio no Chile, Pedagogia do Oprimido (1968) sintetiza o conceito de educação comprometida com o empoderamento do sujeito. Proibida durante o período da ditadura militar, a obra só foi publicada no Brasil em 1974 e é hoje uma das mais citadas em trabalhos acadêmicos de todo o mundo. Pedagogia da Autonomia (1996) foi seu último livro publicado em vida – ele morreu em 2 de maio de 1997, aos 75 anos.

A contribuição da obra de Paulo Freire para a educação reverbera internacionalmente: 28 universidades de 11 países concederam título de Doutor Honoris Causa ao pernambucano. Além desses, outros 19 países dispõem de institutos ou cátedras que carregam o nome dele.