Comissão de Educação volta a discutir reabertura de escolas em Pernambuco

Em 15/09/2020 - 17:09
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DEBATE – Proposta por Clarissa Tércio, reunião virtual contou com representantes das escolas, de pais de alunos e do Comitê da Educação no Campo. Foto: Evane Manço

A retomada das atividades da educação pública e privada em Pernambuco voltou a ser tema de debate na Comissão de Educação da Alepe. Nesta terça (15), o colegiado promoveu o terceiro encontro sobre a questão desde o fechamento das escolas, em março, em razão da pandemia do novo coronavírus. Proposta pela deputada Clarissa Tércio (PSC), a reunião virtual contou com a participação de representantes das escolas, de pais de alunos e do Comitê da Educação no Campo.

Primeira a ser ouvida, a diretora do Colégio Academia Cristã de Boa Viagem (Zona Sul do Recife), Cristiane Assis, admite que a questão é complexa, mas acredita que não há razão para as aulas presenciais continuarem proibidas. Ao decidir fechar as unidades de ensino, o Governo do Estado levou em conta o problema sanitário, mas, neste momento em que a grande maioria das atividades foi reaberta, segundo ela, muitas crianças têm circulado livremente.

“Além de favorecer o prejuízo financeiro de donos de escolas particulares, passados mais de seis meses de suspensão das aulas presenciais, a interrupção prolongada tem provocado problemas emocionais nos alunos, devido ao contato prolongado com telas e ao distanciamento físico. Também coloca em risco o fechamento do ano letivo”, pontuou a gestora.

Para Assis, é hora de pensar no que é prioridade para a comunidade escolar. A diretora destacou que muitos alunos estão cansados das aulas remotas e os professores, por sua vez, têm se desdobrado para produzi-las. Ainda ressaltou que, no locais onde as atividades presenciais foram retomadas, não se observou aumento de casos da Covid-19, citando Manaus (AM) como exemplo. 

PREJUÍZO – “Defendo o retorno das aulas nas unidades privadas o mais rápido possível, para evitar o cancelamento do ano letivo”, disse Cristiane Assis, diretora de um colégio na Zona Sul do Recife. Foto: Evane Manço

Ela lembrou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu parecer informando que, em algumas situações, ficar em casa pode ser ainda mais maléfico para as crianças. “Peço que o Poder Executivo entenda que as escolas particulares estão prontas para reabrir e, mesmo que a rede pública de ensino ainda não esteja preparada, defendo o retorno das unidades privadas o mais rápido possível, para evitar o cancelamento do ano letivo”, completou.

Pai de um estudante, Rodrigo Canuto concorda. Para ele, não existem mais argumentos para manter os jovens sem aulas presenciais, opinião compartilhada por muitas famílias  pernambucanas: um abaixo-assinado já reuniu mais de três mil assinaturas em defesa da reabertura das escolas. Para fundamentar o posicionamento, usou como base a fala do pediatra Eduardo Jorge, externada durante uma live promovida pelo Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) no dia 27 de agosto.

“O médico afirmou que os sintomas da Covid-19 nas crianças são leves ou nem se apresentam, e que esse grupo corresponde a apenas 2% do total de casos. Frisou que os jovens têm pouca relevância na cadeia de transmissão e que mantê-los longe do convívio escolar pode acarretar uma série de consequências, como doenças mentais, uso de drogas, delinquência e gravidez indesejada”, revelou Canuto. Ao observar que, em alguns países onde o vírus circulou, não houve o fechamento das escolas, ele defendeu o retorno das aulas no Estado, uma vez que “praticamente todas as atividades econômicas já estão funcionando normalmente”.

Representante do Comitê da Educação no Campo, o professor do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) André Luís Pereira foi na contramão dos demais participantes. De acordo com o docente, todos os especialistas informam que os jovens se contaminam pouco com o novo coronavírus, mas podem transmitir para muitas pessoas, justamente porque, quase sempre, são assintomáticos. “Cada vida importa e, se apenas um estudante morrer, será terrível. No Brasil, a doença ainda está ativa e matando, em média, mil pessoas por dia, e o momento da reabertura das escolas deve levar em conta os benefícios e riscos”, declarou.

ABAIXO-ASSINADO – Para Rodrigo Canuto, não existem mais argumentos para manter os jovens sem aulas presenciais: “Praticamente todas as atividades econômicas já estão funcionando normalmente”. Foto: Evane Manço

Pereira salientou que, ao apresentar um parecer sobre a reabertura das unidades de ensino, a OMS elencou uma série de condições para que isso ocorra. Ao concordar com o fato de que muitas crianças estão circulando livremente, o professor ponderou que esse tipo de atitude não seja copiado nem banalizado, enquanto o vírus ainda estiver entre nós. Ainda comentou que, como em todas as crises, a parcela mais vulnerável da população é quem tem sofrido mais com a pandemia. “No caso da comunidade escolar, professores e funcionários, tanto da rede pública quanto da privada, serão os mais prejudicados. Somos contra a reabertura das escolas antes da vacina.”

Clarissa Tércio considerou importante debater o tema pela terceira vez na Comissão de Educação, enfatizando que o assunto é polêmico e, por isso, a discussão é pertinente. “Dados apontam que o vírus da gripe pode ser mais transmissível do que o novo coronavírus, e as escolas não fecham quando há surto por influenza. Temos de usar a razão”, disse a deputada. 

Ela acredita que as instituições de ensino poderiam reabrir no formato híbrido, com a manutenção das aulas remotas e a opção, a critério de cada família, de mandar os filhos ao colégio. A parlamentar também afirmou que a população não está tendo o conhecimento devido sobre a Covid-19 para poder realizar suas atividades com segurança e anunciou que fará um pedido de informação ao Governo do Estado questionando os argumentos para manter as aulas suspensas.

O deputado Antonio Fernando (PSC) informou que, no Estado, a comunidade escolar representa 25% da população. “Cerca de 2% dos pernambucanos já foram contaminados. No momento, os números estão em queda, mas, em caso de aumento da circulação de pessoas, poderemos ter um crescimento na quantidade de doentes.  Sugiro um novo debate com médicos e estatísticos para que possamos consolidar nossa opinião”, opinou. 

CONTRAPONTO – “Cada vida importa e, se apenas um estudante morrer, será terrível. No Brasil, a doença ainda está ativa e matando, em média, mil pessoas por dia”, pontuou o professor André Luís Pereira. Foto: Evane Manço

A deputada Jô Cavalcanti, do mandato coletivo Juntas (PSOL), defende não ser o momento de reabrir as escolas do Estado. “Sabemos que não só os alunos, mas professores e funcionários poderão se contaminar.” A parlamentar também propôs novos encontros sobre o tema.

O deputado Professor Paulo Dutra (PSB) apresentou a Indicação nº 4245/2020, propondo a retomada das aulas no formato híbrido para as turmas de fechamento da etapa escolar – ou seja, 5º e 9° anos do Ensino Fundamental e 3° ano do Ensino Médio, além de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e subsequente. “Sugiro que o retorno seja feito por ciclos, porque o ano letivo é diferente do ano civil”, propôs. Para ele, entretanto, a sociedade deve aguardar a decisão do Comitê Socioeconômico de Enfrentamento ao Coronavírus, responsável pela elaboração do  Plano de Convivência com a Covid-19, que, em breve, deve ter alguma definição sobre o assunto. 

Projetos – Na reunião desta terça, o colegiado apreciou algumas proposições, tendo aprovado seis matérias e distribuído outras 12 para relatoria. Entre as acatadas, está o substitutivo da Comissão de Justiça ao Projeto de Lei (PL) nº 1289/2020, apresentado pelo deputado Pastor Cleiton Collins (PP). A proposta institui novas diretrizes de prevenção e combate ao assédio sexual no transporte coletivo intermunicipal. As medidas incluem campanhas educativas para estimular denúncias por parte das vítimas e conscientizar a população sobre a importância do tema.

Já o PL nº 1491/2020, enviado pelo Poder Executivo Estadual, estabelece os critérios de pagamento para o auxílio de emergência cultural no valor de R$ 600 a trabalhadores da área. Ainda prevê editais de fomento de atividades e equipamentos artísticos paralisados em virtude do isolamento social. Essa matéria também recebeu o aval da Comissão de Educação.