
QUEIXAS – Participantes da audiência pública reclamaram sobre o tratamento que vêm recebendo da Prefeitura do Recife e do prazo estipulado para que deixem o imóvel. Foto: Alepe
“Meu sentimento é de alguém que está morrendo, porque o tempo para resolver a situação do Edifício Holiday está acabando.” A frase foi proferida por Jeane da Silva, moradora do prédio, há quase duas semanas sem energia e sem água. A questão foi mais uma vez alvo de discussão na Assembleia, nesta terça (19), em audiência pública realizada pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos. O primeiro debate ocorreu na semana passada.
Durante o encontro, moradores reclamaram novamente sobre o tratamento que vêm recebendo da Prefeitura do Recife e do prazo que foi estipulado para que deixem o imóvel. O período se encerra nesta quarta (20). Também relataram momentos em que se sentiram humilhados e o sofrimento que estão passando diante da obrigação de abandonar os apartamentos. Síndico do edifício, José Rufino Bezerra Neto afirmou que tem procurado ajuda do Poder Público e pediu a união dos moradores para fortalecer o movimento de manutenção no prédio.

RELATO – “Meu sentimento é de alguém que está morrendo, porque o tempo para resolver a situação do Edifício Holiday está acabando”, lamentou Jeane da Silva. Foto: Alepe
Do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em Pernambuco, Vitória Genuíno creditou a situação do Edifício Holiday à falta de política habitacional e de ações do Poder Público. “Por que a solução é simplesmente tirar as famílias do prédio?”, indagou. Argumenta ainda que, como muitos moradores são ambulantes que atuam na Praia de Boa Viagem, a saída do imóvel poderá implicar perda de renda, “além da dificuldade de reinserção social”.
Também apontando para a “ausência de política habitacional na cidade do Recife”, Socorro Leite, da Habitat para a Humanidade, destacou o interesse social do edifício. “No Recife, tem sido empregada a solução única de retirar as famílias e pagar auxílio-moradia”, criticou. Antônio Celestino, do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec), posicionou-se no mesmo sentido: “Não se trata de um problema privado. É um problema habitacional e humanitário. A prefeitura falha em não perceber isso”. A especulação imobiliária foi citada por diversas pessoas como possível motivação para a saída dos residentes do prédio. “O capital rentista e imobiliário são um perigo nessa cidade”, pontuou Celestino.
Como encaminhamento do debate, a presidente da Comissão, Jô Cavalcanti, do mandato coletivo Juntas (PSOL), frisou que continuará acompanhando a situação dos moradores, solicitará o tombamento do imóvel e envolverá o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) na questão. A parlamentar também cobrou maior comprometimento da Prefeitura do Recife. “Até quando vai ficar omissa em relação a essas famílias que estão sendo expulsas de suas casas?”, indagou. Carol Vergolino, que também integra as Juntas, relatou que advogados e engenheiros voluntários estão no imóvel em busca de soluções que não impliquem a saída dos moradores.

SOLUÇÃO – Jô Cavalcanti, das Juntas, cobrou maior comprometimento do Poder Público: “Até quando vai ficar na omissão?” Foto: Alepe
O Corpo de Bombeiros e a Prefeitura do Recife reiteraram a necessidade de esvaziamento do prédio diante de riscos apontados por laudos técnicos. “A gente entende o clamor social, mas nós trabalhamos com a preservação de vidas. Desde 2016, laudos conclusivos atestam o perigo. Se houver um incêndio lá, haverá situação de colapso”, declarou o coronel Manoel Francisco, da corporação. Também dos Bombeiros, o tenente-coronel Erick Aprígio reforçou que “a situação é crítica e o risco é iminente”. Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE), Evandro Alencar observou que a instituição realizará reunião para contribuir com alternativas. De acordo com a Defesa Civil do Recife, 70 mudanças já foram realizadas no edifício e outras 150 estão agendadas.
Ana Rita Suassuna, secretária de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife, afirmou que moradores estão recebendo tratamento humanizado, e a recomendação é de que sejam removidos para abrigo público. “Mas essa não é uma solução definitiva”, salientou. Sobre auxílio-moradia, a gestora explicou que não está sendo oferecido porque a realidade dos residentes no Holiday ainda está sendo mapeada. “Há uma diversidade enorme de situações. Pessoas que moram no prédio, pessoas que utilizam o imóvel de forma comercial. Estamos dialogando. Não tem faltado empenho do governo municipal”, garantiu. A Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) foi convidada para o debate, mas não enviou representante.
Holiday – Cerca de três mil pessoas vivem nos 476 apartamentos que compõem o edifício, localizado na Rua Salgueiro, próximo à Avenida Boa Viagem. Desde o dia 6, moradores estão sem água e energia. Na semana passada, a 7ª Vara da Fazenda Pública determinou a interdição e imediata desocupação do imóvel.