
PROJETO DE LEI ORDINÁRIA 1585/2020
Declara o Coronel Manoel de Souza Neto como Patrono das Forças Volantes de Combate ao Cangaço do Estado de Pernambuco.
Texto Completo
Art. 1º Fica o Coronel Manoel de Souza Neto declarado como Patrono das Forças Volantes de Combate ao Cangaço do Estado de Pernambuco.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor após a sua publicação.
Justificativa
Manoel de Souza Neto nasceu nas terras da antiga fazenda Algodões, município de Floresta, no dia 1º de novembro de 1901. Cresceu ao lado dos parentes, e ao lado deles, se engajaria numa luta ingrata, dura e heroica. Pelo acaso, ali por perto também chegou muito cedo Virgulino Ferreira da Silva - o futuro Lampião, que se tornaria o grande inimigo do Estado e de Manoel Neto.
Segundo Marilourdes Ferraz na obra “O Canto do Acauã” (p. 141), “Em 1922, Manoel de Souza Neto partiu da casa do seu tio João Flor, ao lado do comerciante Adão Feitosa, para Rio Branco (atual Arcoverde), a fim de comercializar peles de bode. A viagem foi extenuante, feita a pé e parte a cavalo mas, ainda assim, por iniciativa própria, prolongou seu itinerário até a capital para efetuar alistamento, seguindo o exemplo do seu irmão Arconso.” Dessa forma, deu início a sua carreira militar, mantendo seu destino de ser um dos mais valorosos combatentes do cangaço. Com 21 anos de idade incompletos, engajava-se com coragem numa luta que duraria pelo menos 16 anos, logo se destacando por sua bravura.
Em janeiro de 1924, Manoel Neto foi um dos soldados que mais se fizeram notar, sob o comando do sargento Higino José Belarmino, nas lutas travadas contra o grupo de Lampião e em defesa de Clementino Quelé, que vira seu distrito de Santa Cruz, em Triunfo, ser atacado violentamente. Poucos dias depois de tal fato, entrava novamente em choque com o grupo de bandidos, forçando-os a deixar o Estado de Pernambuco e fugir para a Paraíba, pois o governo paraibano não permitiu que os soldados pernambucanos entrassem em seu território, o fato que contribuía para Lampião se reorganizasse e voltasse a atacar.
Já no ano de 1925, ao lado de uma força volante composta de civis, procurava descobrir o paradeiro de Lampião. Tomando conhecimento da presença do bando na região de Betânia, encontrou a força sob o comando do sargento José Leal, seguindo todos na direção da Cachoeira dos Galdinos, onde estavam os cangaceiros. A força policial tinha alguns homens a menos que os bandidos e logo deu-se inicio ao tiroteio, formando uma batalha duríssima. No auge da luta, o sargento José Leal e o soldado João Preto abandonaram o campo da luta. Manoel Neto assumiu, nessa ocasião, pela primeira vez - segundo João Gomes de Lira -, um comando na campanha contra o banditismo, sendo posteriormente promovido a anspeçada.
Após longos anos de buscas e lutas por Lampião e seu bando, em 1930, Manoel Neto se encontrava no posto de 2º Tenente, servindo como ajudante de ordens do Governador Estácio Coimbra. Seu empenho e seu valor no combate ao banditismo, sua extrema coragem, sua lealdade ao governo o credenciaram àquela posição. Nos conturbados dias de outubro daquele ano, portou-se como verdadeiro herói, resistindo até o último momento contra as forças que procuravam depor, em Pernambuco, o Governador Estácio Coimbra. Manoel Neto não pôde ficar indiferente ao governo que dera aos nazarenos o amparo necessário à defesa do seu povoado, que tanto fora ameaçado pelo facinoroso Virgulino Ferreira.
Apesar do nobre esforço nas lutas travadas na capital pernambucana, Manoel de Souza Neto acabou por ser preso e perdendo a farda militar. No entanto, José Émerson Benjamim, que representava o governo, resolveu pedir a reinclusão de Manoel Neto na Polícia do Estado. Aos 27 de abril de 1931, Neto voltou às fileiras da Polícia Militar, no posto de 2º sargento, apesar de ter relutado a aceitar, uma vez que ao tempo de seu afastamento, tinha o posto de 2º tenente. Entretanto, o Capitão garantira-lhe que, se assumisse, dentro de um mês conseguiria sua promoção ao antigo posto.
A 13 de julho de 1931, Manoel Neto levou a Vila Bela, para inclusão ou alistamento, os seus amigos e parentes nazarenos, muitos deles quase crianças. Estava ali formada a volante dos nazarenos que, pouco depois, seguiria para a Bahia, onde o governo requisitou ajuda pernambucana pois se via sem forças para combater Lampião, que havia voltado a cometer suas costumeiras selvajarias. Esses homens seguiram de Vila Bela no dia 28 de julho de 1931, entrando na Bahia no dia 3 de agosto, destinados a enfrentar em campo estranho o famigerado Lampião que, havia três anos, infernizava aquela região.
Ainda como tenente, foi Comandante das Forças em Operação no Interior do Estado (PE), sendo então obrigado, devido à alta posição de comandante, a afastar-se do confronto direto com os bandidos. Entretanto, ainda haveria de enfrentá-los, como o fez em Porteiras, no município de Floresta, em 1935. Com o levante comunista daquele ano, o tenente instruiu seus comandados, fazendo-os voltar à sede das volantes para dali, sob seu comando, seguirem para o Recife a fim de dar combate aos comunistas e sufocar o movimento armado que eclodira.
A sua ação, sempre incisiva, ensejara-lhe a promoção a capitão, o que se verificou em 3 de janeiro de 1936. E, em 27 de fevereiro, recolheu-se das Forças em Operação no Interior do Estado, passando a prestar serviços na capital. Virgulino e seu bando fixara-se no eixo Bahia-Sergipe e diminuíra suas incursões em Pernambuco. Mesmo assim, Manoel Neto ainda continuou a realizar missões no interior, trabalhando de uma forma intensa e desgastante. Enfim, em dezembro de 1936, entrou em gozo de férias, benefício que não obtivera nos anos de 1929, 1930, 1932, 1934 e 1935, o que, por si só, demonstra o empenho do nazareno no combate ao banditismo.
Na capital pernambucana, comandou a 3ª, 2ª e 1ª Companhia do 1º Batalhão, assumindo interinamente por diversas vezes as funções de subcomandante daquele Batalhão. Ficou à frente do Esquadrão de Cavalaria de dezembro de 1938 a junho de 1940. Nesse período, foi louvado “pelo esforço e dedicação demonstrados durante a extinção do grande incêndio verificado num dos tanques da Standard Oil Company of Brazil”, ocasião em que se postou sempre ao lado do comandante Geral, “auxiliando em tudo que era possível, transmitindo ordens e colaborando para a manutenção da ordem pública”.
Deixando, em 1940, o Comando do Esquadrão de Cavalaria, o capitão Manoel Neto voltou a comandar a 1ª Companhia, assumindo depois o cargo de Subcomandante Interino do 2º Batalhão, onde foi elogiado pelo comandante que realçou a “dedicação ao trabalho, o empenho em serviço, o amor à disciplina, traduzidos nas diversas modalidades e ainda mais no acatamento ao chefe; o dom da iniciativa e o espírito de corporação”.
Em fevereiro de 1943, foi nomeado Delegado Regional da 11ª Zona Policial, com sede em Ouricuri, onde exerceu tal cargo até setembro do mesmo ano. Voltou à capital e assumiu o Comando da 2ª Companhia e, no ano seguinte, novamente o Esquadrão de Cavalaria. Já em dezembro de 1944, foi nomeado Delegado Regional da 8ª Região Policial, com sede em Sertânia, onde permaneceria até fevereiro de 1946. Pouco tempo depois recebeu sua promoção a Major por antiguidade.
Ao final de 1947, entrou numa fase difícil de sua vida, afastando-se do trabalho por um ano, para tratamento de saúde. Em novembro de 1948, foi operado e desligado do serviço por mais um ano. Finalmente, aos 27 de outubro de 1949, foi transferido, a pedido, para o Quadro Suplementar. Na década de 1950, com o apoio do líder político João Inocêncio, o coronel Manoel Neto foi eleito prefeito de Inajá, passando a fazer uma administração responsável. Deixando a prefeitura, passou a viver exclusivamente de sua aposentadoria.
Calado, introspectivo, não deixava transparecer o homem valente que era. Dificilmente falava sobre suas lutas contra o banditismo, pois achava que isso poderia influenciar ou estimular negativamente os jovens, prova concreta do seu caráter ímpar, respeitoso e humilde. Com a avançada idade de 78 anos, faleceu às 7 horas e 45 minutos do dia 3 de novembro de 1979, no Hospital da Polícia Militar, na capital pernambucana. Seu corpo foi levado para sua terra natal, sendo sepultado com honrarias militares no cemitério de Nazaré.
Manoel Neto, “espigado, de falar macio e andar cauteloso de gato do mato, cujo nome varava o Sertão como uma legenda de bravura” (Luís Cristóvão dos Santos, J. do Commércio - 02.12.82), participara de 35 combates e foi, sem dúvida, o maior perseguidor de Lampião. A sua atuação contra os bandidos deu-lhe oportunidade de mostrar qualidades nas missões mais difíceis, sempre a ele confiadas. “Sua peregrinação pelos sertões foi longa e vitoriosa”.
Nosso pleito se fundamenta na necessidade de reconhecer e homenagear um bravo pernambucano e sertanejo, que honrou a bandeira do Estado de Pernambuco até o fim de seus dias, lutando contra a onda perversa de criminalidade que foi o cangaço. Manoel de Souza Neto, é considerado pelos historiadores e pesquisadores do banditismo como o maior perseguidor de Lampião e seu bando, não descansando até que visse o povo sertanejo livre de tamanho terrorismo espalhado pelos criminosos. Ao longo de sua vida, comandou várias forças volantes com imensa competência, coragem e bravura, sendo referência em todo o nordeste. Portanto, nada mais justo que declarar o nobre Manoel Neto como patrono das Forças Volantes de Combate ao Cangaço do Estado de Pernambuco, eternizando-o na nossa história e perpetuando seu valoroso serviço.
Ante o exposto, solicito o valoroso apoio dos Nobres Parlamentares desta Casa Legislativa.
Histórico
Fabrizio Ferraz
Deputado
Informações Complementares
Status | |
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Situação do Trâmite: | PUBLICADO |
Localização: | SECRETARIA GERAL DA MESA DIRETORA (SEGMD) |
Tramitação | |||
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1ª Publicação: | 16/10/2020 | D.P.L.: | 6 |
1ª Inserção na O.D.: |
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