Alepe - Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco

        Art.1º Fica a Banda de Pífanos de Caruaru declarada Patrona das Bandas de Pífanos de Pernambuco.

        Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.

A Banda de Pífanos de Caruaru ou Banda de Pífanos Zabumba de Caruaru é um conjunto de música instrumental regional composta por pífanos e percussão.

No panorama musical nordestino encontramos esse tipo de formação musical que se destaca pela sua peculiaridade. Estes grupos, também chamados de cabaçais, são formações musicais que utilizam instrumentos de sopro e percussão, cuja origem é remota. São encontradas em quase todos os estados do Nordeste e durante muitos anos constituíram parte importante das manifestações musicais das comunidades da região. Participando de manifestações sagradas e profanas, as bandas de pífano guardam elementos técnicos e estéticos de épocas longínquas.

Citações de autores portugueses sobre o pífano, levam a crer que o instrumento já era popular em Portugal de longa data. Interessante notar que o material e o processo usados para a fabricação dos pífanos portugueses é muito similar aos brasileiros. Quanto ao material, utiliza-se o vime, espécie de junco, da mesma família que a taquara e a taboca, bastante similar ao material usado pelos cabaçais brasileiros.

Há diversos nomes para esse mesmo tipo de conjunto musical, a exemplo de cabaçal, que, segundo Andrade, é “Formação instrumental encontrada no nordeste, o mesmo que música cabaçal, com dois pífanos, um zabumba e uma caixa de guerra” (Andrade, 1989, p.77). Para o mesmo termo, Cascudo apresenta a seguinte definição: “Conjunto instrumental de percussão e sopro, (...). Constituem um cabaçal, dois zabumbas, espécies de bombos ou tambores, e dois pifes (...).” (Cascudo, 1999, p.202).

Até a década de 1960, não se empregava o nome “banda” para classificar estes tipos de conjunto, mas sim o termo Zabumba. Segundo o compositor Onildo Almeida, de Caruaru, o nome “banda” teria sido uma influência das bandas de rock, provavelmente, da época da Jovem Guarda.

Dentre as bandas de pífano brasileiras, a que mais se destacou com uma obra fonográfica mais estruturada foi justamente a Banda de Pífanos de Caruaru. Fundada no ano de 1924 por Manuel Clarindo Biano e Benedito Clarindo Biano, no sertão de Alagoas, esta banda cabaçal sofreu transformações ao longo da sua história até ser lançada no mercado fonográfico na década de 1970. Construindo entre percalços a sua carreira, o grupo é atuante até hoje.

Relembrando sua história, na década de 1920, Sebastião Biano ganhou do pai seu primeiro pífano: um pequeno pedaço de taboca que, no improviso, servia como flauta de timbre intenso e estridente. O grupo chegou em Caruaru em 1939, quando adotou o nome Banda de Pífanos de Caruaru. Inicialmente, viveram em uma zona rural, enquanto o pai cuidava de um sítio com 20 cabeças de gado. Depois, se mudaram para uma zona mais urbana, na Rua Preta, no bairro do Kennedy.

Chegou um momento que todo mundo queria ver a banda. O prefeito da cidade os visitava de vez em quando e certo dia levou Gilberto Gil até eles. Ele ficou sentado no meio da sala, no chão. Mais tarde, seria lançada a música Pipoca Moderna, no disco Expresso 2222. Seguindo dicas do mesmo político, Biano rumou para São Paulo, na década de 1960, com outros parentes e integrantes: João, Gilberto, Amaro e José. Eles queriam mais oportunidades na área musical e conseguiram notoriedade nacional. Em 2004, o grupo recebeu o prêmio de Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras na 5ª edição do Grammy Latino.

Sebastião Biano, único integrante original, presenciou momentos históricos com o conjunto, tocou para Lampião, conquistou o Sudeste, colaborou com Gilberto Gil e recebeu a condecoração de Ordem do Mérito Cultural, em 2006, pelo então presidente Lula. Em 2016, Sebastião Biano recebeu o Título de Cidadão de Caruaru, onde declarou que se identificava muito com o município, o qual via como um espaço muito emocionante de vida e cultura.

Em 2019, ano em que Sebastião Biano completou 100 anos, o mesmo retornou a Caruaru para acompanhar a exibição do documentário “Pipoca Moderna”, que aborda sua trajetória e legado. Biano também foi um dos homenageados do São João de Caruaru de 2019, junto com a cantora Marlene do Forró, o artesão Severino Vitalino e o fogueteiro Manoel Mamoca - os dois últimos, falecidos. Os integrantes mais novos são todos filhos e sobrinhos dos primeiros fundadores.

A Banda de Pífanos de Caruaru, possui uma discografia importante, a saber: 1972: Banda de Pífanos de Caruaru (CBS); 1973: Música popular do Nordeste (Discos Marcus Pereira); 1973: Banda de Pífanos de Caruaru (CBS); 1976: Banda de Pífanos de Caruaru (Continental). 1980: A bandinha vai tocar (Discos Marcus Pereira); 1999: Isso Tudo é São João (Trama); 2003: No século XXI, no pátio do Forró (Trama).

Diante do trabalho primoroso da Banda de Pífanos de Caruaru, cuja importância artística divulgou Caruaru e Pernambuco no cenário instrumental nacional e mundial, é que solicito dos nobres Pares a aprovação deste Projeto de Lei.