
PROJETO DE LEI ORDINÁRIA 1254/2020
Adota Solano Trindade como Patrono da luta antirracista em Pernambuco.
Texto Completo
Art. 1º Fica declarado Solano Trindade como Patrono da luta antirracista em Pernambuco.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.
Justificativa
Nascido em 24 de julho de 1908 em Recife-PE foi poeta, cineasta, pintor, homem de teatro, militante do Movimento Negro e do Partido Comunista e um dos maiores animadores culturais brasileiros do seu tempo, o pernambucano Francisco Solano Trindade foi, para vários críticos, o criador da poesia “assumidamente negra” no Brasil.
Premiado no exterior, elogiado por celebridades como Carlos Drummond de Andrade, Darcy Ribeiro, Sérgio Milliet e tantos outros, o negro (e pobre) escritor recifense fez muito pela cultura, pelas artes do País e enfrentou o racismo de seu tempo e jamais poderá jazer no esquecimento.
Filho de um humilde sapateiro do bairro de São José Manuel Abílio Trindade e de Emerenciana Maria de Jesus Trindade, foi operário, comerciário e colaborou na imprensa. Estudou no Colégio Agnes Americano, onde fez o curso de teatro. Em 1935, casou-se com Margarida Trindade com quem teve 4 filhos.
Depois que deixou o Recife e fixou residência no Rio de Janeiro, Solano Trindade foi o idealizador do I Congresso Afro-Brasileiro e, anos mais tarde (1945), criou, com Abadias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro.
Depois (1950), concretizou um dos seus grandes sonhos, fundando, com apoio do sociólogo Edson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro (TPB). Em 1955 criou o Brasiliana, grupo de dança brasileira que bateu recorde de apresentações no exterior.
No teatro, foi Solano Trindade quem primeiro encenou (1956) a peça “Orfeu”, de Vinícuis de Morais, depois transformada em filme pelo francês Marcel Cammus.
Mas a biografia de Solano Trindade não pára por aí. Em São Paulo, onde o TPB empolgou platéias no Teatro Municipal, foi ele quem transformou a cidade de Embu num centro cultural onde dezenas de artistas passaram a viver da arte.
No exterior (Praga), realizou o documentário “Brasil Dança”. Como ator, trabalhou nos filmes “Agulha no Palheiro”, “Mistérios da Ilha de Vênus” e “Santo Milagroso”.
E mais: foi co-produtor do filme “Magia Verde”, premiado em Cannes. Na literatura, Solano estreou em 1944, com “Poemas de uma Vida Simples” e publicou ainda outros dois livros: “Seis Tempos de Poesia” (1958) e “Cantares ao Meu Povo” (1961).
Enquanto atuou na vida cultural brasileira, Solano Trindade (“esse genial poeta”, na classificação de Carlos Drummond de Andrade) recebeu os maiores elogios da crítica.
Seu livro de estréia, por exemplo, foi classificado por Otto Maria Carpeaux como “uma pequena preciosidade”. Tinham opinião semelhante sobre a sua poesia, nomes de peso como Afonso Schmidt, Roger Bastides, Fernando Góes, Arthur Ramos e Nestor de Holanda. Já o trabalho do Teatro Experimental do Negro (TEN) foi, segundo Darcy Ribeiro, “um núcleo ativo de conscientização dos negros, para assumirem orgulhosamente sua identidade e lutar contra a discriminação”.
Aliás, todo o trabalho de Solano Trindade (quer no teatro, dança, cinema ou literatura) tinha como características marcantes o resgate da arte popular e, sobretudo, a luta em prol da independência cultural do negro no Brasil.
A ponto de Sérgio Milliet chegar a escrever que “poucos fizeram tanto quanto ele pelo ideal de valorização do negro em nossa terra”. Estaria aí uma razão para o seu esquecimento? Fica a pergunta.
O certo é que, durante a estréia no Rio, em maio de 1945, o TEN sofreu violentos ataques dos conservadores. Em editorial, o jornal O Globo chegou a afirmar que se tratava de “um grupo palmarista tentando criar um problema artificial no País”.
Enquanto viveu no eixo Rio-São Paulo, ao mesmo tempo em que sua obra ganhava fama entre a crítica nacional e repercussões no exterior, nunca deixou de realizar oficinas para operários, estudantes e desempregados.
Em 1944, por conta do poema Tem Gente com Fome, foi preso e teve o livro “Poemas de uma Vida Simples” apreendido. Em 1964, um dos seus quatro filhos (Francisco) morreu numa prisão da ditadura militar.
Morreu em 20/02/ 1974 num hospital no Rio de Janeiro.
Um das poucas tentativas de trazer de volta o nome de Solano Trindade para o grande público ocorreu entre 1975, quando o poema Tem Gente com Fome iria integrar o disco dos Secos & Molhados.
Mas, como explicou João Ricardo (que musicou o poema), problemas com a censura impediram a gravação. Só em 1979, Ney Matogrosso gravaria a canção Tem Gente com Fome, no seu LP “Seu Tipo”.
Além disso, em 1976 a escola-de-samba Vai-Vai, do Bexiga, São Paulo, desfilou no carnaval com o enredo em homenagem ao poeta.
Samba enredo da Vai-Vai de autoria de outro Gigante Negro – Geraldo Filme e interpretado por Bernadete e o conjunto do T Kaçula.
(Texto adaptado do artigo Solano Trindade, do Portal Geledés, https://www.geledes.org.br/solano-trindade/)
Histórico
Isaltino Nascimento
Deputado
Informações Complementares
Status | |
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Situação do Trâmite: | AUTOGRAFO_PROMULGADO |
Localização: | SECRETARIA GERAL DA MESA DIRETORA (SEGMD) |
Tramitação | |||
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1ª Publicação: | 19/06/2020 | D.P.L.: | 12 |
1ª Inserção na O.D.: |
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