Audiência pública: pecuaristas pedem ação contra mosca-de-estábulo

Em 01/09/2021 - 20:09
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PARCERIA – Diretor-presidente da Adagro, Paulo Lima salientou que a fiscalização depende da cooperação com as prefeituras e a Polícia Militar. Foto: Roberta Guimarães

A utilização indevida de esterco de frango está gerando uma praga de mosca-de-estábulo na pecuária do Agreste Central e da Mata Sul de Pernambuco. O alerta foi dado por produtores em audiência pública conjunta das Comissões de Administração Pública e de Meio Ambiente da Alepe, realizada virtualmente nesta quarta (1º). 

Espécie parecida com a mosca doméstica, a mosca-de-estábulo (Stomoxys calcitrans) diferencia-se por conseguir sugar o sangue de animais, especialmente cavalos e bois, causando feridas e doenças que podem levar à perda de peso e morte. Criadores e técnicos apontaram que a chamada cama de frango – material usado para forrar pisos de granjas que mistura palha e esterco –, quando mal empregada, pode ser fonte de matéria orgânica para a infestação desse inseto.

“Já temos portarias que definem o manejo da cama de frango. Ela precisa ser coberta por lona quando transportada nas estradas e deve ser enterrada quando utilizada como fertilizante, para não permitir a infestação”, informou Paulo Lima, diretor-presidente da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro).

Entretanto, segundo ele, a fiscalização depende da cooperação com as prefeituras e a Polícia Militar, especialmente com os batalhões rodoviários e de proteção ao meio ambiente. O gestor também apontou os plantios de inhame e cará como uma das origens do problema. “São feitos por produtores itinerantes, que arrendam terra por um período para fazer o cultivo, e depois vão para outros lugares. Mas a infestação com esse tipo de mosca fica”, contou Lima.

MATA SUL – Segundo Antônio Moraes, que solicitou o debate, foram registrados casos em Cortês, Palmares, Amaraji, Joaquim Nabuco e Ribeirão. Foto: Roberta Guimarães

Relatos apresentados na audiência indicam que a situação é recorrente nos municípios de Bonito, Sairé, São Joaquim do Monte, Barra de Guabiraba, Gravatá e Camocim de São Félix, todos no Agreste Central. O deputado Antônio Moraes (PP), que propôs o debate, disse que, na Mata Sul, foram registrados casos em Cortês, Palmares, Amaraji, Joaquim Nabuco e Ribeirão. 

“Se não leva o animal à morte, a mosca-de-estábulo provoca perda de peso, que pode chegar a até três arrobas, além de transmitir uma infinidade de doenças. Também aumenta a irritabilidade do gado, que fica concentrado em um só lugar, o que prejudica o manejo do pasto”, observou o pecuarista João Tavares, que tem propriedade em Bonito.

Soluções

Uma das sugestões de Tavares é que seja feita uma cartilha para divulgar a maneira correta de empregar o esterco de aviários. “Quando vamos a propriedades que utilizam cama de frango e explicamos que estão fazendo de modo errado, eles mudam. Mas precisamos que o Estado faça também a fiscalização”, solicitou.

O vice-presidente da Associação Avícola de Pernambuco (Avipe), Lula Malta, ressaltou que propriedades que fazem o manejo adequado da cama de frango não têm problemas com infestações. “Eu uso esterco aviário ao lado de criações de bovinos e suínos sem nunca ter sofrido com essas moscas”, exemplificou.

AGRESTE – “Se não leva o animal à morte, o inseto provoca perda de peso, além de transmitir uma infinidade de doenças”, contou o pecuarista João Tavares. Foto: Roberta Guimarães

Paulo Lima relatou que, em Bonito, 16 produtores que empregam o método foram alvo de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), da Promotoria do Ministério Público da cidade, a partir de monitoramento realizado pela Adagro. A agência vem buscando parcerias com o Ministério da Agricultura para promover campanhas de conscientização sobre o tema.

Bióloga que faz assessoria técnica para o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Vilalba Mendonça propôs a atuação do setor de Educação Ambiental da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) nas localidades afetadas. Por sua vez, o deputado Antônio Moraes defendeu que haja mais repressão ao uso irregular da cama de frango.

“Esse problema acontece há pelo menos cinco anos, já houve muita conversa e orientação. É preciso haver repressão também”, frisou o parlamentar, que preside a Comissão de Administração Pública. “Sei que falta pessoal na Adagro, mas, com o auxílio de órgãos de segurança pública, podemos determinar uma área de exclusão apenas nos municípios afetados, onde propriedades e estradas devem ser fiscalizadas.” 

Para o deputado Antonio Fernando (PSC), alterar a legislação pode assegurar que produtores que usam o método de fertilização de maneira indevida sejam punidos. A audiência pública também teve a presença de representantes da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) e da Secretaria Estadual de Agricultura, que se colocaram à disposição para colaborar.