CPI do Narcotráfico vai ao Sertão e paz entre famílias é confirmada

Em 29/11/2000 - 00:11
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De um lado, as famílias em conflitos que ceifaram muitas vidas, num enfrentamento abrangendo Belém do São Francisco, Floresta e Cabrobó, no Sertão pernambucano. De outro, a sociedade perplexa, chocada e na esperança de que um dia a luta fratricida chegasse ao fim.

No meio dessas linhas, a ação do Poder Legislativo na busca paciente, corajosa, destemida, de concluir um acordo, uma conciliação entre os clãs. A Assembléia, numa demonstração de sintonia com os anseios da sociedade, pode celebrar, enfim, uma trégua ou até uma paz definitiva assinada em Salgueiro entre representantes do Araquan e Benvindo.

Esse, o resultado obtido pela CPI do Narcotráfico e Pistolagem, trazendo alívio e diminuindo a alta tensão da região sertaneja. O deputado Pedro Eurico, presidente da CPI, chegou a Salgueiro em companhia dos deputados Antônio Moraes (PSDB) e Lula Cabral (PFL), membros da comissão especial e Jaime Asfora, procurador-adjunto do Estado, para assinatura do protocolo que impõe alguns requisitos a serem cumpridos pelas famílias.

Em Salgueiro, 14 membros dos Araquan estão na prisão. Alguns com penas já definidas, outros na fase processual. No Fórum aconteceu a reunião entre parlamentares, autoridades judiciárias e municipais e os Araquã.

Participaram da reunião os promotores Antônio Augusto de Arroxelas Macedo Filho e Lauriney Reis Lopes; os juízes Hailton Gonçalves da Silva, Antônio Casado de Araújo Cavalcanti e Maria Segunda (Cabrobó); o delegado Vamberto Gomes de Souza; a prefeita eleita, Creuza Pereira; o superintendente da Polícia Federal, Zulmar Pimentel.

A Reunião – Pedro Eurico instalou a sessão citando Victor Hugo e Dom Hélder. Do escritor francês: “a utopia de hoje é a verdade de amanhã”; e do arcebispo, “quanto mais negra a noite mais clara a madrugada”. Na mensagem de esperança aos envolvidos na guerra de extermínio entre os clãs, o deputado parecia Martin Luther King falando à nação americana no famoso discurso “Eu tive um sonho”…

Ele ponderou, no entanto, que os esforços de parlamentares, Igreja, MP, da sociedade, não serão, suficientes se na verdade as famílias não entenderem a importância da participação delas, a responsabilidade de cada uma no cumprimento do termo de compromisso agora assinado no Fórum. Também lembrou que a CPI teve ontem de manhã o último ato, mas não terminará sua ação em favor da sociedade, na medida em que a Assembléia Legislativa dará continuidade aos esforços dessa pacificação.

As famílias compareceram ao ato e notava-se crianças de 16 anos ou vetustos sertanejos, homens e mulheres, rostos crestados pelo sol e pelo sofrimento, mas deixando transparecer a esperança de que doravante possam viver em paz, retornar ao trabalho, a cerca de 100 propriedades inteiramente abandonadas por causa da briga.

Eurico destacou o apoio significativo da Igreja à CPI. Informou que o documento agora assinado será remetido a todos os envolvidos, inclusive aqueles que se encontram foragidos, para que acompanhem o acordo. Também falou o padre Roberto Luciano, da Diocese de Floresta, conclamando pela paz e estimando que “toda a brabeza demonstrada antes pelos clãs, possa ser revertida no desejo ardente da pacificação”.

Pelos envolvidos falou, primeiro, Rogério Araquã, desejando que realmente possam chegar a um período de paz e apelou à justiça pela agilização dos processos de numerosas pessoas envolvidas e hoje cumprindo pena ou aguardando julgamento. Em seguida, Cristiano Diniz Simões de Medeiros, conhecido como Barnard.

Antônio Moraes leu o termo de compromisso, assinado pelas famílias, assinalando que a briga prejudicou fortemente a economia da região mas que agora eles serão vistos de maneira diferente, com simpatia, pela sociedade. (enviado especial – Antônio Azevedo)